Muricy Ramalho não é de meias palavras, por isso mesmo sua relação com a imprensa muitas vezes passa por períodos conturbados. E por ser direto e objetivo, o técnico do Santos rende bons bate-papos. E foi assim que ele se abriu com o narrador e apresentador Cleber Machado, no CT Rei Pelé, onde concedeu entrevista exclusiva ao "Esporte Espetacular". Seleção brasileira, Peixe, aposentaria, Corinthians e Neymar permearam a conversa, e o camisa 11 santista é hoje a principal preocupação do comandante.
Muricy não sabe se o atacante vai embora para Europa nos próximos dias, mas tem opinião formada a respeito de uma transferência antes da Copa do Mundo no Brasil. Para ele, é um risco..
- Os diretores do Santos não me falam nada, mas tomara que não vá. Às vezes, o cara vai e não joga, como aconteceu agora com o Kaká e com o Robinho. (Na Europa) não importa se foi uma contratação milionária, e ele não pode perder o embalo perto da Copa. Por isso, não sei se será bom para ele. Estou pensando no Santos, mas também na Seleção e no bem dele.
Para o técnico, a possível transferência da joia da Vila Belmiro deixaria o futebol brasileiro sem brilho. Mas ele revela que o jogador, que não costumava dar bola para os críticos, está começando a sentir as vaias que leva quando joga pela seleção brasileira.
- Fico triste, porque no Brasil não estão valorizando o ídolo. Isso me incomoda. O Pelé não tomava vaia. O Brasil não joga bem faz tempo, e o Neymar é que é o culpado? É difícil fazer uma preparação sem eliminatórias. Amistoso só serve para arrumar confusão.
O Corinthians tem um time experiente e forte, mas não dá para falar se a eliminação vai atrapalhar o rival sem saber do dia a dia deles"
Muricy
Muricy Ramalho recusou em 2010 um convite do então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, para comandar o time canarinho até a Copa do Mundo. A CBF acabou chamando Mano Menezes, então no Corinthians. O técnico do Santos, que naquele ano permaneceu no Fluminense e conduziu o Tricolor ao título brasileiro, diz que não era o momento de mudanças - Mano deu lugar a Luiz Felipe Scolari.
- Mas já que trocaram, chamaram o Felipão e o (Carlos Alberto) Parreira, que são os dois melhores. Agora, eles vão ter que descobrir o time e a maneira de jogar. mas sou otimista, acredito no jogador brasileiro. A defesa já está pronta. No meio já tem o Paulinho, e falta o primeiro volante. Falta também definir os jogadores de frente. Mas vai chegar a hora que teremos que abraçar a Seleção.
A instabilidade dos técnicos no Brasil acabou vindo à tona. Segundo ele, não há paciência. Só ficam nos cargos quando estão vencendo.
- Se não ganha, o cara vai embora. No Brasil, tudo é muito emocional. O projeto acaba quando a bola bate e não entra. Aí tudo muda. Isso me incomoda. O amadorismo é em todos os setores do futebol. Já trabalhei dos dois lados. Onde não pagam, não contratam jogador. É difícil.
Satisfeito com o projeto do Santos, mesmo o clube não fazendo grandes loucuras por contratações, Muricy confirma que não pretende prolongar muito a carreira de treinador.
- A saúde está boa, mas tive um problema sério (diverticulite, inflamação no intestino grosso) e tive que ficar no hospital. Não poso fazer o que gosto. Comer, beber cerveja. E isso é por causa do nosso dia a dia - lembra Muricy, que em 2012 teve também um problema na coluna. - Ganho bem, mas isso aqui é uma prisão. Tem que ficar concentrado. Você não vê a família, não vai aos churrascos...
O treinador também falou sobre a final do Paulistão. O Santos perdeu por 2 a 1 o primeiro jogo para o Corinthians, no Pacaembu, e neste domingo, às 16h (de Brasília), acontece o segundo e decisivo duelo, na Vila Belmiro. O Santos precisa vencer por dois ou mais gols de diferença - apenas um leva a decisão para os pênaltis. Muricy diz que a reação é possível, mas não vê vantagem no fato de o rival ter sido eliminado da Libertadores no meio de semana, após empatar com o Boca Juniors.
- Quando fomos campeões da Libertadores, também tinha a final do Paulista no meio. O Corinthians tem um time experiente e forte, mas não dá para falar se a eliminação vai atrapalhar. Não sei o dia a dia deles. A vantagem (do Corinthians) é boa, mas estamos na nossa. Vamos jogar em casa. Assisto muito a jogos de basquete, e não dá para tirar dez pontos com uma cesta. No futebol é a mesma coisa. Teremos 90 minutos para virar.
Cléber Machado entrevista Muricy Ramalho (Foto: Fernando Prandi / GLOBOESPORTE.COM)
