Todos os dias, cerca de mil homens trabalham para deixar a Arena Pantanal, em Cuiabá (MT), perfeita para receber Chile e Austrália no dia 13 de junho, pela primeira rodada da Copa do Mundo. Entre os operários que labutam diariamente no novo templo do futebol do Mato Grosso, está Ademir Fernando Brito. Negro, magro e alto, ele poderia passar despercebido em meio a tantos operários com histórias tão parecidas. Mas não passa. Ao menos não nesta quarta-feira, quando o estádio que está ajudando a construir receberá Mixto e Santos, pela Copa do Brasil.
Operário da Arena Pantanal, em Cuiabá, quer vitória do Santos como presente de aniversário (Foto: Flávio Meireles)
Prestes a completar 42 anos - seu aniversário é nesta sexta-feira -, Ademir torce pelo Peixe e acredita que o time tem todas as condições de conquistar a classificação para a segunda fase de competição já nessa partida, o que pode acontecer se o Alvinegro Praiano vencer por dois ou mais gols de diferença. E ele nem se preocupa se a maior parte dos titulares ficou em Santos intensificando a preparação para a final do Campeonato Paulista.
- Eu acho que vai ser 3 a 1, mesmo com os reservas – prevê.
Quem vê Ademir tão seguro nem desconfia que até pouco tempo o branco e o preto vestiam o seu maior rival. Mas ele cansou de sofrer. Ou pelo menos é o que garante. Resolveu mudar. E parece bem satisfeito com sua escolha.
- Antigamente eu torcida pelo Flamengo, mas começou aquele "perde-perde"... Larguei de mão. Aí passei a torcer pelo Santos - conta.
Vida dura
Ademir foi resgatado do trabalho escravo e ajuda a erguer a Arena Pantanal (Foto: Flávio Meireles)
Ademir é um dos sete operários da Arena Pantanal resgatados não faz muito tempo do trabalho escravo. No estádio, que receberá quatro partidas da Copa do Mundo, ele dá um duro danado, mas nada que lembre os tempos em que era submetido a condições insalubres de trabalho para sustentar a mulher e os quatro filhos.
Aos 41 anos, ele faz parte de um projeto que visa qualificar e reinserir socialmente egressos do trabalho escravo. A iniciativa é fruto de uma parceria entre a construtora responsável pela Arena Pantanal, a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego e o Ministério Público do Trabalho. Além dele, outros seis trabalhadores resgatados possuem carteira assinada e recebem, diariamente, alimentação e alojamento adequados. Desde o início da obra, outros 40 receberam o mesmo tratamento.
Quase metade do dia Ademir dedica à Arena Pantanal. São cerca de 10 horas diárias preparando massa, que é o que faz um betoneiro como ele. A rotina cansativa se justifica. Nesta quarta-feira, quando o local será o palco do duelo entre Mixto e Santos, a capacidade ainda estará reduzida - o jogo deve receber aproximadamente 20 mil pessoas. Na Copa do Mundo, o estádio terá 41.390 lugares. Ele garante que tudo estará pronto até junho.
- Vai ficar tudo pronto. Tenho certeza – diz.