quarta-feira, 27 de junho de 2012

Secadores têm reduto boquense em SP para torcer contra o Corinthians




Qualquer conversa entre amigos dá uma mostra clara de que a torcida contra o Corinthians na final da Taça Libertadores da América diante do Boca Juniors será grande, até maior do que aquela a favor. São-paulinos, santistas e palmeirenses estão unidos para agourar o maior adversário na busca pelo primeiro título da competição. Os “antis”, como são chamados pelos alvinegros, têm um reduto boquense no bairro da Mooca, na Zona Leste de São Paulo, para se reunir e torcer pelo time argentino na decisão desta quarta-feira, às 21h50m.


O bar se chama MoocAires, junção dos nomes Mooca e Buenos Aires, mas já foi apelidado de La Moocanera - referência, claro, ao estádio do Boca. Com espaço para cerca de 130 pessoas em dois andares, o estabelecimento receberá alguns torcedores do Boca nascidos na Argentina, mas a maioria da torcida será formada mesmo pelos aficionados pelos outros times de São Paulo que não querem ver o maior rival conquistando o título inédito.


– Alguns amigos argentinos virão, mas a maioria mesmo torce para o São Paulo, Santos ou Palmeiras. Eles não querem ver de jeito algum o Corinthians conseguir este título. Terão alguns corintianos, também, mas o clima aqui dentro será de paz. O pessoal que frequenta o bar é bem tranquilo – disse Cristian Galarza, 41 anos, argentino de Resistencia, capital da província de Chaco, a cerca de mil quilômetros da capital Buenos Aires. Ele mora no Brasil há 12 anos e é o proprietário do Bar MoocAires.


Cristian conta que os outros jogos tiveram um público bom, mas ele espera que nesta quarta a quantidade de gente seja bem maior. O argentino busca solidificar a tradição entre os bocaneros.


Para entrar ainda mais no clima da final da Libertadores, os funcionários do bar irão usar um uniforme especial. Camisetas brancas, amarelas e azuis receberam o escudo do Boca Juniors no peito. E o símbolo do clube está por toda parte - na parede, no tampo das mesas... A imagem de Diego Maradona, maior ídolo do futebol argentino e da história do Boca, também está presente - uma das mesas é estampada com a foto do gol marcado com a mão na Copa do Mundo de 1986, nas quartas de final contra a Inglaterra.


Fachada do bar Moocaires em São Paulo (Foto: Gustavo Serbonchini / globoesporte.com)Fachada remete ao Caminito, que fica perto da

Bombonera (Foto: Gustavo Serbonchini)


Com medo da ação de vândalos em caso de derrota do Corinthians, Cristian irá contratar dois seguranças particulares para tomar conta da entrada do bar. Além disso, a polícia do bairro já foi avisada do evento e prometeu que irá reforçar as rondas por ali durante a partida.


Cristian acredita no título do Boca. Para ele, a primeira partida será 1 a 0, e o jogo do Pacaembu acabará empatado. Pelo lado dos argentinos, Riquelme, Ledesma e Somossa serão os jogadores que vão desequilibrar.


Pelo Corinthians, clube pelo qual, ironicamente, tem admiração no Brasil, o dono do bar acredita que os destaques serão Ralf e Paulinho. Incapazes, porém, de brecar os argentinos, na visão de Cristian


Bocanero por sorte

Normalmente os torcedores passam a gostar de um time por influência dos pais, parentes e até mesmo dos amigos. Com Cristian não foi bem assim. Com cinco anos ele se tornou bocanero na sorte. Seu pai, Rufino Galarza, torcedor do Boca, mas que não levava o futebol tão a sério, não queria influenciar diretamente os filhos em relação ao time para o qual deveriam torcer. Mas deu um empurrãozinho.



Ele (Cristian) quer que eu torça pelo Boca, mas eu sou corintiana"


Rita Valério, gerente do bar



Ele comprou dois fardamentos completos – um do Boca e um do River Plate, os dois maiores rivais do país – e colocou em uma sacola na qual não era possível ver o que tinha dentro. Com quatro anos de idade, Cristian pegou uma, e Alexis, seu irmão mais novo, ficou com a outra. Após a definição por sorte, o dono do bar acabou vestindo azul e amarelo, e o outro filho de Rufino farda o vermelho e branco.


– Na Argentina primeiro existem os torcedores de Boca ou River e só depois que o pessoal gosta dos outros times – lembra Cristian.


Oito anos depois nasceu o terceiro irmão, Roger Adrian. Por ter mais amizade com Alexis do que com Cristian, ele, que hoje tem 33 anos, acabou virando torcedor do River Plate. Roger atualmente trabalha com o irmão e o ajuda no bar. Segundo o proprietário, ele será um dos poucos que torcerá a favor do Corinthians na decisão.


Mas existem outros espiões no bar. Além de Roger, mais seis funcionários são corintianos, dois são santistas e um é torcedor do Boca. Entre os alvinegros estão a esposa de Cristian, Daniela Correia, e a gerente Rita Valério.


– Ele quer que eu torça pelo Boca, mas eu sou corintiana. Aqui é democrático e não vai ter problemas se o Timão fizer um gol e eu vibrar – disse Rita.


Cristian Galarza, dono de restaurante do Boca Juniors em São Paulo (Foto: Gustavo Serbonchini / globoesporte.com)Cristian Galarza, dono do MoocAires, em São Paulo (Foto: Gustavo Serbonchini / globoesporte.com)


Na arquibancada

Torcedor do Boca desde os 4 anos de idade, Cristian só viu pela primeira vez o time do coração aos 12. O clube da capital viajou até a cidade onde ele morava para enfrentar o Chaco for Ever, clube local. O jogo acabou empatado em 1 a 1. Seis anos depois o argentino finalmente conheceu o estádio do seu time: La Bombonera. O Boca venceu o Ferro Carril, clube de Buenos Aires, por 2 a 0.


No Brasil, Cristian já acompanhou a equipe duas vezes e tem boas lembranças. Ele estava no Morumbi quando o Boca empatou com o São Paulo, em 2 a 2, pela Recopa Sul-Americana, em 2006. O resultado, somado à derrota do Tricolor por 2 a 1 na Bombonera, foi suficiente para os argentinos conquistarem o título.


– Estava com um amigo corintiano, que torcia pela gente, e com mais um argentino. O corintiano ficou pulando na numerada do Morumbi comemorando, mas eu e meu outro amigo ficamos quietos o tempo todo. Apenas cochichando. Se alguém ouvisse o nosso sotaque poderia dar confusão.


Dois anos antes, nas quartas de final da Libertadores, ele também acompanhou diretamente do estádio o Boca. Foi no empate em 0 a 0 contra o São Caetano, no Anacleto Campanella. O jogo de volta acabou 1 a 1 e o time argentino conseguiu a vaga nos pênaltis. Naquela edição, eles acabaram com o vice-campeonato da competição após perder a decisão para o Once Caldas-COL.


Maradona é melhor que Pelé

Cristian viu Maradona, seu maior ídolo no futebol, jogar na Bombonera. El Pibe, como é conhecido, atuou no Boca entre 1981 e 82 e entre 95 e 97. Foi na segunda passagem que Cristian acompanhou os passos do jogador.


– Ele é muito melhor do que Pelé. Não há o que discutir. Vai ver o que ele fez na Copa do Mundo de 1986. É inacreditável – explicou Crisitan, tomando chimarrão e lembrando da conquista. A Argentina já havia sido campeã do mundo em 1978.


Para o torcedor, Messi é melhor que Neymar por conta do físico, e Tévez, melhor que Robinho.