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Na primeira e única vez que a Costa do Marfim foi campeã da Copa Africana de Nações, em 1992, Yaya Touré tinha apenas oito anos. Na época, ele ainda não sabia se seria jogador de futebol, muito menos se conseguiria realizar o sonho de se tornar o maior nome do esporte no continente. Agora, 21 anos depois, o atleta do Manchester City tem em seu currículo o prêmio de melhor futebolista da África das duas últimas temporadas e é um dos destaques de um time considerado favorito para faturar a edição do torneio em 2013. A caminhada começa nesta terça-feira, contra Togo, às 13h (de Brasília). O SporTV transmite a partida.
- É claro que nosso time é citado entre os favoritos, mas, neste torneio, acho que conta o quanto você trabalha como um time. Não tivemos tanto tempo de preparação quanto as equipes que possuem jogadores que atuam na África. Mas temos grandes talentos, e acho que está na hora de conquistarmos o troféu novamente – disse Yaya, em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM.
A geração de Touré é uma das mais talentosas da história da Costa do Marfim. Além do meia, nomes como Didier Drogba , Gervinho e Salomon Kalou estão ou estiveram em grandes clubes do futebol europeu. A conquista da Copa Africana serviria para coroar de vez o elenco, cujo status na Costa do Marfim transcende o âmbito esportivo.
Yaya Touré na cerimônia em que recebeu o prêmio de melhor jogador africano em 2012 (Foto: AP)
Heróis nacionais
Em outubro de 2005, a Costa do Marfim venceu o Sudão por 3 a 1 e garantiu a classificação para a primeira Copa do Mundo da história do país. Logo após o jogo, Drogba, junto com seus companheiros, se ajoelhou no vestiário e implorou, ao vivo na televisão nacional, que a guerra civil na Costa do Marfim tivesse um fim. Uma semana depois, uma trégua foi anunciada.
- Era uma época muito emotiva, com muita tensão. A guerra civil já se prolongava por cinco anos quando nos classificamos para o Mundial. Foi simplesmente uma onda de emoções positivas que fez com que nós, jogadores, e o país olhássemos para o futuro. Nós odiávamos o que estava acontecendo no nosso país, mas não havia nada planejado para nos envolvermos como um time. Foi mais uma decisão emocional que surgiu num momento de sucesso e, antes de percebermos, nosso papel já havia crescido – lembrou Yaya.
Drogba e seus companheiros da seleção pedem fim da guerra (Foto: Reprodução / Youtube)
No ano seguinte, os Elefantes acabaram eliminados na fase de grupos do Mundial. Apesar disso, as lições daquele tempo ajudaram a fortalecer o time marfinense, segundo Touré.
- Quando nós viajamos para a Alemanha, toda aquela situação nos tornou mais fortes, nos deu uma espécie de sentimento de família. Além disso, o apoio do nosso país foi intenso.
Em 2007, os jogadores voltaram a ter um papel importantíssimo na reunificação da Costa do Marfim. Apesar do acordo de paz, as tensões entre norte e sul ainda eram significantes. Drogba, eleito melhor jogador da África naquele ano e criado no sul do país, decidiu levar seu troféu para Bouaké, capital do norte, e pediu para que o próximo jogo das Eliminatórias para a Copa de 2010 fosse realizado na região, controlada anteriormente por rebeldes. Resultado: goleada por 5 a 0 sobre Madagascar em junho daquele ano e a sensação de que a união era possível.
Elefantes em família
Dentro do time marfinense que vai disputar a Copa Africana de Nações neste ano, o entrosamento segue em alta. A situação, aliás, é oposta à de muitos concorrentes, envoltos em problemas de relacionamento entre jogadores, técnicos e dirigentes. Este é mais um motivo para ver os Elefantes como favoritos à competição.
- O relacionamento no nosso time é incrível, temos um sentimento de unidade e apoiamos um ao outro no que podemos. Não posso falar dos outros times, mas conosco não há problemas de organização – disse Yaya.
Yaya Touré, à esquerda, durante a disputa da Copa do Mundo de 2010 (Foto: Reuters)
Por fim, outro fator explica o bom entendimento entre os jogadores. Ao todo, 12 atletas dos 23 que disputarão a Copa Africana deram juntos os primeiros passos no futebol, na academia do técnico francês Jean-Marc Guillou, no ASEC Mimosas, principal time da Costa do Marfim.
- Os métodos de Guillou definitivamente ajudaram a construir este entrosamento. O fato de que nós nos conhecemos há tantos anos realmente aumenta a química no time. É sempre divertido nos reunirmos e atuar como um time – contou o jogador.
Por conta desta tranquilidade, o meia do City não se mostra preocupado com a expectativa criada em torno dos Elefantes. Nem mesmo o fato de ser considerado o melhor jogador da África nas duas últimas temporadas o distrai.
- Receber este prêmio duas vezes seguidas é uma honra, e estou muito orgulhoso. Era o meu sonho desde que eu era criança. Mas eu não sinto que há uma pressão extra. Isso me dá força e me motiva a mostrar do que eu sou capaz – garantiu o jogador.
Yaya Touré prevê disputa acirrada pelo título
da Copa Africana de Nações (Foto: AFP)
Hora da verdade para faturar o título
Mesmo sem pressão e com o bom ambiente na seleção, Yaya Touré sabe que a missão para conquistar a Copa Africana será complicada. Em 2012, o time chegou à final, mas perdeu para a Zâmbia nos pênaltis. A decisão, aliás, mostrou que equipes outrora sem tradição começam a superar as antigas potências.
- Acho que os torneios passados mostraram que tudo pode acontecer na Copa Africana. Já houve algumas surpresas nas eliminatórias, e nós aprendemos que é preciso levar cada adversário a sério e avançar passo a passo na competição. Acho que o time que lutar mais terá boas chances de ser campeão. E nós estamos mais do que motivados para fazer com que este triunfo finalmente aconteça – garantiu Touré, que vê como positivo o momento do futebol no continente.
- Esta mudança mostra que o futebol africano está evoluindo. Não são apenas algumas seleções que estão em um bom nível. A diferença entre os países está diminuindo.
Para o meia, o crescimento de outros times deve-se à aposta em técnicos europeus. A opinião de Touré, aliás, contrasta com a do técnico Stephen Keshi, da Nigéria, que recentemente criticou a invasão dos forasteiros no continente, afirmando que eles tiram o espaço dos locais. Para Yaya, o impacto é positivo.
- Acho que uma das razões para a evolução de outras equipes é a presença de técnicos europeus nas seleções. Agora, o “know-how” necessário está disponível na maioria dos países. Não acho que as potências pioraram. Prefiro dizer que os times “menores” melhoraram.
Yaya em ação pelo Manchester City (Foto: AFP)
Conselho a Neymar
As considerações de Yaya Touré são relevantes. Afinal, o meia se transformou, na Europa, num dos melhores jogadores do mundo. Para ele, a passagem pelo Barcelona, onde ficou durante três anos, no início da era de Pep Guardiola, foi crucial para sua evolução.
- Minha passagem no Barcelona foi um passo importante para a minha carreira. O Barça tem um grande estilo de jogo, então acho que é vantajoso para qualquer jogador. Eu atuei lá durante três anos, e você aprende bastante quando joga em um dos melhores times do mundo.
Não à toa, Yaya tem um conselho a dar para Neymar . Na última premiação da Bola de Ouro da Fifa, o marfinense ficou em 12º lugar, uma posição à frente do craque brasileiro. Para ele, o atacante do Santos tem tudo para se tornar um dos melhores jogadores do mundo. Por isso, uma transferência para um time europeu não deve demorar.
- Eu acho que Neymar é, definitivamente, um jogador para ficar de olho no futuro. Ele ainda é muito novo, então ainda há mais para ele aprender. Mas estou certo de que ele tem grande potencial. Ficaria surpreso se ele não fosse para um clube europeu em breve.
