sábado, 26 de janeiro de 2013

Lembranças de 1949: panorama da Seleção e do Brasil antes da Copa


Bruno Andrade - 26/01/2013 - 09:20 São Paulo (SP)


Seleção 1949


Contagem regressiva para a Copa do Mundo de 2014. Nesta segunda-feira, dia 28 de janeiro, o Brasil estará a 500 dias de sediar mais uma vez a maior competição esportiva do planeta. E, para abrir o material especial, o LANCE!Net relembra neste sábado a situação da Seleção e do próprio país um ano e meio antes de a bola rolar no Maracanã na Copa do Mundo de 1950.


Atualmente, o time está em fase de reformulação após a demissão de Mano Menezes e o retorno do técnico Luiz Felipe Scolari. Ainda dentro das quatro linhas, os principais estádios também estão em reforma.


Logo, a situação de 2013 não chega a ser muito diferente da vivida em 1949. Mas qual era o panorama esportivo, cultural, político e econômico no começo daquele ano? E a maior dúvida: qual era a Seleção base?


Em campo, o time era formado por Barbosa; Augusto, Wilson, Ely e Danilo Alvim; Noronha, Tesourinha, Zizinho e Octávio; Jair Rosa Pinto e Simão. O quarteto defensivo era do “Expresso da Vitória”, o famoso time do Vasco da década de 40.


A escalação acima foi a primeira usada pelo técnico Flávio Costa em 1949. Na ocasião (3 de abril), a Seleção venceu o Equador por 9 a 1 na estreia do Campeonato Sul-Americano (atual Copa América), que acabaria conquistada pelo próprio Brasil.


Apesar da base mantida, seis mudanças ocorreram no time que estreou na Copa do Mundo de 1950 contra o México (vitória por 4 a 0, em 24 de julho). Juvenal, Bigode, Maneca, Ademir Menezes, Baltazar e Friaça entraram nos lugares de Wilson, Noronha, Tesourinha, Zizinho, Octávio e Simão, respectivamente.


E os estádios? Quais palcos estavam prontos para receber o retorno do torneio internacional depois de 12 anos (as Copas do Mundo de 1942 e 1946 foram canceladas por causa da Segunda Guerra Mundial)?


Dos seis estádios que sediaram o Mundial (histórico abaixo), dois ainda estavam em obras em 1949: Independência (Belo Horizonte) e Maracanã (Rio de Janeiro). Por outro lado, Vila Capanema (Curitiba), Estádio dos Eucaliptos (Porto Alegre), Ilha do Retiro (Recife) e o Pacaembu (São Paulo) já estavam de pé.


Os panoramas de 1949 e 2013 são semelhantes. Mas o fim da história será o mesmo? Esperamos que não.


CAPITÃO AUGUSTO


Apesar de ter realizado algumas alterações na Seleção Brasileira entre 1949 e 1950, o técnico Flávio Costa não tocou no seu principal líder dentro de campo: o lateral-direito Augusto. O defensor era um dos destaques do Expresso da Vitória, como ficou conhecido o time do Vasco na década de 1940. Pela Seleção, Augusto jogou entre 1946 e 1950, atuando em 20 jogos (14 vitórias, três empates e três derrotas). Após comandar o Brasil no título do Sul-Americano de 1949, ele ganhou respaldo e seguiu com a braçadeira na Copa de 1950.


SITUAÇÃO DOS ESTÁDIOS UM ANO E MEIO ANTES DA COPA DE 50










Maracanã - Rio de Janeiro-RJ - Inaugurado apenas em 16 de junho de 1950 (Seleção Carioca 1x3 Seleção Paulista). Abrigou oito jogos da Copa, entre eles, a grande decisão











Pacaembu - São Paulo-SP - Inaugurado em 17 de fevereiro de 1940 (Palmeiras 6x2 Coritiba), estava pronto no início da Copa. Recebeu seis partidas do Mundial de 50











Independência - Belo Horizonte-MG - Inaugurado em 25 junho de 1950, abrigou três confrontos da Copa do Mundo, entre eles, a segundo partida do Grupo 1 (Suíça 0x3 Iugoslávia)











Ilha do Retiro - Recife-PE - Inaugurado em 4 de julho de 1937, recebeu apenas uma partida do Mundial de 1950 (Chile 5x2 Estados Unidos, último confronto do Grupo 2)











Vila Capanema - Curitiba-PR - Inaugurado em 23 de janeiro de 1947 (Ferroviário 1x5 Fluminense), recebeu duas partidas da Copa (Espanha 2x0 Chile e Suécia 2x2 Paraguai)











Estádio dos Eucaliptos - Porto Alegre-RS - Inaugurado em 15 de março de 1931 (Internacional 3 x 0 Grêmio), recebeu dois confrontos da Copa de 50 (México 1x4 Iugoslávia e México 1x2 Suíça)

COM A PALAVRA - ROBERTO ASSAF (Colunista do LANCE!Net)


"1949/50: COPA E GETÚLIO VARGAS


Dois assuntos predominavam prioritariamente no Brasil da virada de 1949 para 1950: as eleições para a presidência da República, disputada por Getúlio Vargas, Eduardo Gomes e Cristiano Machado, prevista para outubro, e a Copa do Mundo, a quarta da história, que caiu no colo do país por duas razões básicas. Uma como consequência da Europa ainda arrasada pela Segunda Guerra Mundial. E a outra por conta de um trabalho de bastidores realizado junto à Fifa, principalmente com o seu presidente Jules Rimet.


Na realidade, num plano geral, a Argentina dava de 10 a 0 na gente. Pelo menos cinco estádios modernos para a época, futebol de alto nível, povo alfabetizado e educado, uma rede de hotéis de excelente qualidade, uma Buenos Aires que brilhava de dia e à noite, enfim...


O Brasil da época, presidido pelo general Eurico Gaspar Dutra - eleito pelo povo em 1946 - era essencialmente atrasado, repleto de analfabetos, sem indústrias de base, notadamente explorado por estrangeiros, com a riqueza concentrada nas mãos de uma minoria da população de cerca de 70 milhões de habitantes. Tanto que o primeiro plano governamental, chamado de Salte, atendendo às metas prioritárias de saúde, alimentação, transporte e energia só foi criado em maio de 1950.


Mas Rimet, na prática, já vinha sendo cortejado pelos brasileiros desde 1939, quando visitou o país pela primeira vez. Assim, acabou se encantando pelos trópicos, tendo influência direta sobre os delegados da Fifa, que escolheram o Brasil como sede no Congresso realizado em Londres, em julho de 1948. O Rio, Capital Federal, a "Cidade Maravilhosa", funcionou como a principal peça de propaganda junto à entidade. Vale ressaltar que a CBD ofereceu como garantias a organização exemplar do Campeonato Sul-Americano de 1949, no Rio e em São Paulo, e a construção do gigante Maracanã, promessas enfim cumpridas.


Uma pesquisa promovida pelo "Jornal dos Sports" mostrou que para 30% dos entrevistados o cinema era a principal diversão do carioca. O futebol, porém, ficou com 29,2%, um empate técnico. Logo, a proximidade da Copa gerou uma expectativa formidável, pela chance de acompanhar ao vivo os melhores jogadores do mundo, de ver a nossa Seleção, campeã continental, e por sua excelência, ganhar o torneio, e ainda de poder mostrar ao planeta a nossa capacidade para receber gente de todo o planeta.


Surgiram críticas isoladas à realização, sem muita repercussão. O vereador Carlos Lacerda, da UDN, trabalhou contra o Maracanã, ou na pior das hipóteses, que fosse construído em Jacarepaguá, um bairro distante de quase tudo. Mas o prefeito carioca, Ângelo Mendes de Morais, assumiu a causa para torná-la realidade. É evidente que as exigências da Fifa eram infinitamente menores. E os problemas que pudessem preocupar os gringos, em especial a violência urbana, estavam igualmente a muitas léguas da realidade de hoje.


No fim, a Copa, para os padrões da época, foi um sucesso. Em tempo: Getúlio foi eleito dois meses depois com 49% dos votos. E nós perdemos a Jules Rimet para o Uruguai. Mas essa já é outra história.


COMUNICAÇÃO NA ÉPOCA DA COPA


Há um abismo gigantesco entre a cobertura da Copa de 1950 e a próxima. Há 63 anos, existiam o impresso e o rádio. A TV chegou ao Brasil dois meses após o torneio, em setembro, mas ainda quase inacessível, pois os aparelhos, importados é claro, custavam uma fortuna, e logo, restritos a uma minoria privilegiada. Como se não bastasse, não possuía os muitos recursos de hoje, sequer o vídeo-teipe.


Seria desnecessário, mas não custa lembrar que a informática era uma miragem no calor do deserto. A única opção para o registro de imagens em movimento era o cinema, que exigia equipamento pesado, ou seja, dificultava sobremodo o deslocamento de repórteres e cinegrafistas.


Vale lembrar que se a Copa, principalmente na América do Sul, ainda não possuía o status de evento efetivamente global, o número de jornalistas trabalhando na sua cobertura era infinitamente menor. E logo, óbvio, a possibilidade de divulgar informações também, não só por isso, mas pela ausência das ricas possibilidades eletrônicas de agora. Havia o telex. Mas o Brasil ainda estava longe de oferecer DDD e DDI, que só surgiram no fim da década de 1960. Uma ligação, acreditem, do Rio para São Paulo, realizada apenas com o auxílio de uma telefonista, podia demorar quatro horas.


E a única emissora de rádio que podia alcançar boa parte do imenso território do país era a Nacional, criada em 1936, e encampada pela ditadura Vargas, em 1940, para divulgar as suas realizações. Os principais diários eram os cariocas "Correio da Manhã" e "O Globo" e os paulistas "Estado" e "Folha". A Copa de 1950, no entanto, e pela sua grandeza, ajudou a tornar o jornalismo esportivo mais importante e profissional."


Contagem regressiva para a Copa do Mundo de 2014. Nesta segunda-feira, dia 28 de janeiro, o Brasil estará a 500 dias de sediar mais uma vez a maior competição esportiva do planeta. E, para abrir o material especial, o LANCE! relembra neste sábado a situação da Seleção e do próprio país um ano e meio antes de a bola rolar no Maracanã na Copa do Mundo de 1950.


Atualmente, o time está em fase de reformulação após a demissão de Mano Menezes e o retorno do técnico Luiz Felipe Scolari. Ainda dentro das quatro linhas, os principais estádios também estão em reforma.


Logo, a situação de 2013 não chega a ser muito diferente da vivida em 1949. Mas qual era o panorama esportivo, cultural, político e econômico no começo daquele ano? E a maior dúvida: qual era a Seleção base?


Em campo, o time era formado por Barbosa; Augusto, Wilson, Ely e Danilo Alvim; Noronha, Tesourinha, Zizinho e Octávio; Jair Rosa Pinto e Simão. O quarteto defensivo era do “Expresso da Vitória”, o famoso time do Vasco da década de 40.


A escalação acima foi a primeira usada pelo técnico Flávio Costa em 1949. Na ocasião (3 de abril), a Seleção venceu o Equador por 9 a 1 na estreia do Campeonato Sul-Americano (atual Copa América), que acabaria conquistada pelo próprio Brasil.


Apesar da base mantida, seis mudanças ocorreram no time que estreou na Copa do Mundo de 1950 contra o México (vitória por 4 a 0, em 24 de julho). Juvenal, Bigode, Maneca, Ademir Menezes, Baltazar e Friaça entraram nos lugares de Wilson, Noronha, Tesourinha, Zizinho, Octávio e Simão, respectivamente.


E os estádios? Quais palcos estavam prontos para receber o retorno do torneio internacional depois de 12 anos (as Copas do Mundo de 1942 e 1946 foram canceladas por causa da Segunda Guerra Mundial)?


Dos seis estádios que sediaram o Mundial (histórico abaixo), dois ainda estavam em obras em 1949: Independência (Belo Horizonte) e Maracanã (Rio de Janeiro). Por outro lado, Vila Capanema (Curitiba), Estádio dos Eucaliptos (Porto Alegre), Ilha do Retiro (Recife) e o Pacaembu (São Paulo) já estavam de pé.


Os panoramas de 1949 e 2013 são semelhantes. Mas o fim da história será o mesmo? Esperamos que não.


Capitão Augusto


Apesar de ter realizado algumas alterações na Seleção Brasileira entre 1949 e 1950, o técnico Flávio Costa não tocou no seu principal líder dentro de campo: o lateral-direito Augusto. O defensor era um dos destaques do Expresso da Vitória, como ficou conhecido o time do Vasco na década de 1940. Pela Seleção, Augusto jogou entre 1946 e 1950, atuando em 20 jogos (14 vitórias, três empates e três derrotas). Após comandar o Brasil no título do Sul-Americano de 1949, ele ganhou respaldo e seguiu com a braçadeira na Copa de 1950.


Situação dos estádios um ano e meio antes da Copa do Mundo de 1950


Inaugurado apenas em 16 de junho de 1950 (Seleção Carioca 1x3 Seleção Paulista). Abrigou oito jogos da Copa, entre eles, a grande decisão


Inaugurado em 17 de fevereiro de 1940 (Palmeiras 6x2 Coritiba), estava pronto no início da Copa. Recebeu seis partidas do Mundial de 50


Inaugurado em 25 junho de 1950, abrigou três confrontos da Copa do Mundo, entre eles, a segundo partida do Grupo 1 (Suíça 0x3 Iugoslávia)


Inaugurado em 4 de julho de 1937, recebeu apenas uma partida do Mundial de 1950 (Chile 5x2 Estados Unidos, último confronto do Grupo 2)


Inaugurado em 23 de janeiro de 1947 (Ferroviário 1x5 Fluminense), recebeu duas partidas da Copa (Espanha 2x0 Chile e Suécia 2x2 Paraguai)


Inaugurado em 15 de março de 1931 (Internacional 3 x 0 Grêmio), recebeu dois confrontos da Copa de 50 (México 1x4 Iugoslávia e México 1x2 Suíça)


Com a palavra - Roberto Assaf (Colunista do LANCE!Net)


"1949/50: Copa e Getúlio Vargas


Dois assuntos predominavam prioritariamente no Brasil da virada de 1949 para 1950: as eleições para a presidência da República, disputada por Getúlio Vargas, Eduardo Gomes e Cristiano Machado, prevista para outubro, e a Copa do Mundo, a quarta da história, que caiu no colo do país por duas razões básicas. Uma como consequência da Europa ainda arrasada pela Segunda Guerra Mundial. E a outra por conta de um trabalho de bastidores realizado junto à Fifa, principalmente com o seu presidente Jules Rimet.


Na realidade, num plano geral, a Argentina dava de 10 a 0 na gente. Pelo menos cinco estádios modernos para a época, futebol de alto nível, povo alfabetizado e educado, uma rede de hotéis de excelente qualidade, uma Buenos Aires que brilhava de dia e à noite, enfim...


O Brasil da época, presidido pelo general Eurico Gaspar Dutra - eleito pelo povo em 1946 - era essencialmente atrasado, repleto de analfabetos, sem indústrias de base, notadamente explorado por estrangeiros, com a riqueza concentrada nas mãos de uma minoria da população de cerca de 70 milhões de habitantes. Tanto que o primeiro plano governamental, chamado de Salte, atendendo às metas prioritárias de saúde, alimentação, transporte e energia só foi criado em maio de 1950.


Mas Rimet, na prática, já vinha sendo cortejado pelos brasileiros desde 1939, quando visitou o país pela primeira vez. Assim, acabou se encantando pelos trópicos, tendo influência direta sobre os delegados da Fifa, que escolheram o Brasil como sede no Congresso realizado em Londres, em julho de 1948. O Rio, Capital Federal, a "Cidade Maravilhosa", funcionou como a principal peça de propaganda junto à entidade. Vale ressaltar que a CBD ofereceu como garantias a organização exemplar do Campeonato Sul-Americano de 1949, no Rio e em São Paulo, e a construção do gigante Maracanã, promessas enfim cumpridas.


Uma pesquisa promovida pelo "Jornal dos Sports" mostrou que para 30% dos entrevistados o cinema era a principal diversão do carioca. O futebol, porém, ficou com 29,2%, um empate técnico. Logo, a proximidade da Copa gerou uma expectativa formidável, pela chance de acompanhar ao vivo os melhores jogadores do mundo, de ver a nossa Seleção, campeã continental, e por sua excelência, ganhar o torneio, e ainda de poder mostrar ao planeta a nossa capacidade para receber gente de todo o planeta.


Surgiram críticas isoladas à realização, sem muita repercussão. O vereador Carlos Lacerda, da UDN, trabalhou contra o Maracanã, ou na pior das hipóteses, que fosse construído em Jacarepaguá, um bairro distante de quase tudo. Mas o prefeito carioca, Ângelo Mendes de Morais, assumiu a causa para torná-la realidade. É evidente que as exigências da Fifa eram infinitamente menores. E os problemas que pudessem preocupar os gringos, em especial a violência urbana, estavam igualmente a muitas léguas da realidade de hoje.


No fim, a Copa, para os padrões da época, foi um sucesso. Em tempo: Getúlio foi eleito dois meses depois com 49% dos votos. E nós perdemos a Jules Rimet para o Uruguai. Mas essa já é outra história."