Bruno Cassucci - 10/12/2012 - 08:05 Santos (SP)
Com apenas 21 anos em 2002, Paulo Almeida teve a missão de realizar o gesto que o torcedor santista esperou por 18 anos e ergueu a taça de campeão brasileiro. Porém, nem tudo foram alegrias na passagem do jogador pelo clube de Vila Belmiro. Nos profissionais do Peixe desde 2001, ele teve de conviver com muita pressão da torcida, salários atrasados e até férias forçadas de quatro meses.
Contudo, olhando para trás, o jogador, hoje no Mixto, do Mato Grosso, ele diz que tudo valeu a pena.
Em entrevista ao LANCE!Net por telefone, ele lembrou das brincadeiras dos Meninos da Vila, falou sobre a emoção de levantar o troféu e contou histórias do time que encantou o Brasil e acabou com o jejum de títulos do Santos. Confira:
Embora tenha terminado com o título, 2002 não começou bem para você e os outros jogadores do Santos, não é?
Isso mesmo. O time não se classificou para a fase final do Rio-São Paulo e a diretoria liberou todo mundo, porque o Santos estava com dois meses de salário atrasado. O campeonato voltava só depois da Copa do Mundo. Quando saímos, o técnico era o Celso Roth e na volta, em junho, já era o Leão.
Essa pausa, que durou quatro meses, acabou ajudando o time depois...
Sim, começamos a trabalhar bem antes, ficamos só treinando. O Brasileiro começava em agosto, treinamos desde junho. Isso ajudou.
Aquele grupo acreditava que poderia ser campeão ou pensava em brigar para não cair?
Os jogadores acreditavam que podiam chegar em algum lugar, mas não tão longe como foi. Era o que tinha, diretoria e torcida desconfiavam da gente, mas o clube não tinha condição de contratar.
Com pressão e salários atrasados, pensou em deixar o Santos?
Eu era novo, tinha contrato longo, nem pensava em sair. Nessa época era tudo alegria, 19, 20 anos.
E no final, recebeu o salário atrasado?
(Risos) Foi acertando ao longo da temporada, mas antes de terminar o ano já estava tudo certo.
O bicho pelo título compensou?
Foi um prêmio bom... Mas, se tivesse jogadores mais experientes teria sido melhor, negociaríamos melhor. Ninguém contestava, estava tudo certo. Dinheiro ficou em segundo lugar por conta título. Sabíamos que estávamos entrando para a história, nenhum dinheiro pagaria.
Quando passou a usar a tarja de capitão?
Logo nos primeiros amistosos... Foi contra o Roma de Apucarana, lá no Paraná, e aí ele me colocou de capitão. Eu já era capitão da molecada na base, era meu estilo também, sempre fui de falar, de brigar... Tinha jogadores mais velhos, Léo, Fábio Costa, mas o Leão confiou em mim.
Conseguia ser líder mesmo tão jovem?
A faixa é supérflua. Todo mundo se cobrava, falava. Isso foi fundamental. Eu usava a faixa, mas os mais jovens também se cobravam.
Como lidava com as cobranças da torcida?
O muro do CT era baixo, então a gente tinha que escutar todo dia, fazer o que? O bom de ser jovem era que entrava por um lado e saia por outro. Só de estar no Santos era uma grande coisa. Não tínhamos noção da importância. Tinha mais a empolgação, por isso não levamos o peso da fila... O pessoal falava e a gente não dava importância.
O que aconteceu para o time cair de rendimento na reta final da primeira fase?
Foi normal, era um grupo muito jovem, a pressão aumentou. Já na fase final, só de estar ali já era uma vitoria, pois muitos achavam que iríamos brigar para não cairmos. Aí a pressão foi menor. Sabíamos da nossa responsabilidade, mas não carregávamos aquele peso. Não éramos responsáveis pelas faixas viradas, mas sabíamos que o quadro poderia ser revertido.
Quando passou a acreditar que o título era possível?
Quando o time se classificou, no jogo contra o São Caetano, mesmo perdendo. Depois, fomos para Extrema, em Minas Gerais, e a gente se reuniu, só os jogadores, sem comissão, e fomos lavar roupa suja, nos cobramos pela queda de rendimento no fim da primeira fase. Nos unimos. Classificamos quando ninguém acreditava...Foi o momento para a gente conversar, ver que tínhamos condições...
E a participação do Leão?
Lembro que ele mostrou uma fita do jogo contra o São Paulo na primeira fase, quando perdemos, mas o primeiro tempo foi um espetáculo. Ele mostrou o VT só do primeiro e falou que era pra gente ver o que fazer. Aquele jogo foi muito louco, eu fui expulso, o Kaká também, teve aquele lance de o Diego subir no escudo do São Paulo... Foi um clássico muito disputado e nos dias seguintes só se falou daquele jogo, as trocas de farpas. Isso motivou bastante, contagiou o grupo todo.
Que jogo mais te marcou naquela campanha?
O jogo do título, não tem jeito. A gente perdendo de 2 a 1, aquela tensão toda no estádio, todos os santistas já pensando que se tomasse um gol continuaria na fila, Leão expulso, nervosismo total... E aí o Robinho fez uma grande jogada, Elano empatou e, enfim, respiramos.
E finalmente você pôde erguer a taça...
Mas não foi sozinho, tive a ajuda do Elano, que não deixou eu levantar o troféu só. Felicidade foi muito grande, não tinha nem noção do que tinha feito. Só depois fui ter ideia. Só caiu a ficha na Vila. Ali no elevador (da sede social) só tinha o desenho do time do Pelé e fizeram do outro lado o nosso desenho.
Como era sua relação com o Leão?
Muito boa, sou muito grato ao que ele fez comigo, me deu responsabilidade grande, de ser capitão. Ele cobrava e dizia que só fazia isso com quem ele via que tinha condições. Eu tomava umas broncas, era normal, ninguém escapava. O Wiliam era o que tomava mais, junto com Robinho, Diego. Nas viagens, concentrações, eles sempre aprontavam, pegavam no pé do Alberto (risos).
Você entrava na bagunça?
Eu era mais sossegado, ficava com Renato, Elano, Alex, Léo... mas entrava na brincadeira também.
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