sábado, 17 de maio de 2014

Rodrigão se aposenta, mas diz: "Teria totais condições de jogar na Série A"


Após 20 anos de carreira - sendo quatro nas categorias de base e 16 como profissional - e passagens por 20 clubes, dentre eles Santos, Palmeiras, Botafogo e Internacional, Rodrigão decidiu se aposentar. A decisão, pensada desde o início do ano, foi tomada depois do término da Série A3 do Campeonato Paulista – o agora ex-centroavante chegou ao São Carlos na reta final do torneio, mas não conseguiu evitar o rebaixamento do clube.


Engana-se, porém, quem pensa que o término da carreira é incentivado por lesões ou que a vontade de atuar profissionalmente já não é a mesma. Rodrigão tem certeza de que ainda tem lenha para queimar e de que, mesmo aos quase 36 anos, teria condições de disputar a Série A do Campeonato Brasileiro - inclusive por um grande.


Rodrigão (Foto: Lincoln Chaves)Rodrigão exibe acervo de camisas que já defendeu: 20 clubes em 16 anos como profissional (Foto: Lincoln Chaves)


- Teria totais condições (de jogar na Série A). Meu pai até achava que, pela queda do futebol brasileiro tecnicamente, daria para estar em um clube grande. Se eu concordo? Sim. Nosso futebol, hoje, é mais físico. Joguei duas vezes a Série B do Paulista (quarta divisão), que é sub-23, e se o aspecto técnico é bem inferior ao de um Brasileiro, você enfrenta meninos com um vigor físico elevado, e joguei de igual para igual com eles. Na Série A (do Brasileiro), o futebol é até mais cadenciado, menos corrido, e na parte técnica o atleta acaba não perdendo – analisa, em entrevista ao GloboEsporte.com.


Rodrigão no Santos, em 1999 (Foto: Divulgação / Santos FC)Rodrigão, em início de carreira, vestindo a camisa do Santos, em 1999 (Foto: Divulgação / Santos FC)


Rodrigão, porém, reconhece que a idade avançada pesa na decisão dos clubes, até em divisões menores. Além disso, o agora ex-atacante não tinha um empresário há quase cinco anos. Fatores que, segundo ele, contribuíram para a opção de se aposentar.


- Eu me encontro bem física e clinicamente. Sempre procurei ser profissional. Sempre gostei de treinar, mas é que ser atleta não tem sido compensativo, e o mercado está se fechando para a minha idade. Quando se atua em um clube mediano para grande, fica mais fácil, mas quando sai desse grupo é difícil, ainda mais por não ter um agente há um tempo. Hoje, os empresários são os que têm a entrada nos clubes – diz.


- Sei que posso jogar um Paulista, marcar 40 gols, bater recordes, que o Santos, ou o Flamengo, ou o Cruzeiro não vão me contratar, porque tenho 36 anos e não sou mais visto como “moeda”. Eu poderia sim (prolongar a carreira), jogar até 38, 39 anos. Mas, nos últimos anos, já vinha preparando a cabeça para isso (aposentadoria). Foi uma carreira de altos e baixos, amizades e muito aprendizado – completa Rodrigão, que é ex-marido de Hortência, campeã mundial de basquete pelo Brasil.




Rodrigão iniciou a carreira no Santos, em 1999. No ano seguinte, emprestado ao Inter, teve a missão de substituir Christian, então ídolo da torcida. Mesmo sem títulos, viveu bom momento, ganhando o apelido de “Rodrigol” e chamando atenção do Peixe, que o aproveitou como titular em boa parte do Paulistão e do Torneio Rio-São Paulo de 2001.


Rodrigão no Inter, em 2000 (Foto: Divulgação / SC Internacional)Rodrigão teve boa passagem pelo Inter em 2000 (Foto: Divulgação / SC Internacional)


Do Alvinegro, o ex-centroavante foi para o Saint-Etiénne, da França. Sem sucesso na Europa, voltou ao Brasil e, em seguida, rodou por clubes como Botafogo, Marítimo (Portugal), Santo André, Al Hilal (Arábia Saudita), Palmeiras, Vitória, Jabaquara, Portuguesa Santista e São Carlos. O único título da carreira veio em 2008, quando foi campeão baiano pelo Vitória.


- Obtive classificação à Copa da Uefa com o Marítimo, vaga na Copa da Ásia pelo Al Hilal... Título, realmente, só aquele pelo Vitória. Mas por quê? Eu qualifico os agentes em dois segmentos: o orientador e o negociador. O negociador, que existe em 90% dos casos, negocia o atleta, pega os 10% e some. Não te dá dicas, estrutura. E tem o orientador, que só fui ter com 26, 27 anos. Em 2001, por exemplo, estava bem no Santos, mas, por outras situações, fui vendido para a França. Se tivesse ficado, provavelmente seria campeão (brasileiro) em 2002. Acabei não conquistando mais títulos, até mesmo pela falta de um (empresário) orientador no início da carreira – reflete.


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Nova fase: agente Rodrigão





Até por isso, Rodrigão revela o sonho de trabalhar como agente ao encerrar a carreira. Sonho, aliás, que está perto de ser tornar realidade. Na última quinta-feira, ele esteve reunido com uma empresa de gerencia a carreira de atletas. O ex-jogador está otimista para iniciar a nova etapa e quer ser diferente do que considera a maioria dos empresários do país.


Rodrigão (Foto: Lincoln Chaves)Peixe, Inter e Verdão estão entre os clubes mais marcantes da carreira (Foto: Lincoln Chaves)


- Muitos jovens se iludem com uma carreira de 10, 15 anos, mas, na verdade, você tem seis ou sete anos para ganhar dinheiro. No restante do tempo você está sem clube, na reserva ou machucado. Quero ser esse orientador, aquele que não orienta só no período de atleta, mas no pós-carreira. Eu não tenho experiência, mas vou aprender e bater forte nessa questão da orientação. Não quero ser só mais um no mercado – afirma, destacando a experiência adquirida nos 20 anos no futebol.


- As pessoas dizem: “Rodrigo, você poderia ter ficado mais tempo nos clubes pelos quais passou”. O atleta, quando não está jogando, tem de ter essa pessoa (agente) para explicar que ele não tem que sair do clube por isso, que aquilo é um momento, uma fase. Passei por 20 clubes talvez porque não tive essa orientação antes – conclui.