Bruno Cassucci - 05/12/2012 - 08:01 São Paulo (SP)
Leão queria Ramon, Romário, Adriano Gabiru e Enciso. Teve de se contentar com um “meia baixinho e um neguinho da canela fina”, além de contestados e desconhecidos jogadores. Um catadão. Sobravam dívidas, faltavam dinheiro, confiança e até espaço no noticiário. Para o santista, pior do que a seca que durava desde o Paulista de 1984 era a sensação de “quase” vivida no Brasileiro de 1995 e nos Paulistas de 2000 e 2001.
– Depois daquele gol de Ricardinho (do Corinthians), aos 50 minutos da semifinal do Paulistão, eu falei: “Chega”. Tinha dado quase todo meu patrimônio para montar aqueles times. Se não foi pelo poderio financeiro, teria de ser pelo caminho natural – conta Marcelo Teixeira, então presidente do Peixe.
O jeito foi contratar alguns poucos desconhecidos, como Alberto e Maurinho, dar chances a jogadores baratos que já estavam no elenco, casos de Elano, Renato e Léo, e apostar numa molecada boa de bola, bancada por Zito e promovida ao profissional por Celso Roth meses antes. Eliminado na primeira fase do Torneio Rio-São Paulo e “de folga” por conta da Copa do Mundo, o Santos ficou de 14 de abril a 10 de agosto sem fazer um jogo oficial sequer. No intervalo, treinou à exaustão e realizou amistosos contra Ponte Preta, Glasgow Rangers, da Escócia, Roma Apucarana-PR e Corinthians. O time foi bem e venceu essas partidas, mas começou o Brasileiro fadado a brigar contra o rebaixamento, segundo a crítica.
Não foi isso que se viu logo nas primeiras rodadas. Mesmo com altos e baixos, os garotos, que com o tempo receberam o apelido de novos Meninos da Vila, passaram quase todo o Brasileiro entre os oito melhores, tiveram atuações memoráveis e, com o tempo, cativaram a torcida santista e todo o País. O fim da história todos já sabem.
Na seca, até final era celebrada
O sofrimento santista entre 1984 e 2002 era tanto que quando o clube se classificava para uma final a comemoração era digna de título. Foi assim no Paulistão de 2000, quando o Peixe eliminou o Palmeiras, de virada, na semifinal. Com a ida para a decisão, a Praça Independência, em Santos, foi tomada por torcedores eufóricos com o retorno do time à uma decisão de Estadual após 16 anos.
Em 1995, a celebração pela chegada à final do Brasileiro foi parecida, principalmente após o triunfo heroico sobre o Fluminense.
– Ô, Túlio, pode esperar, a sua hora vai chegar – gritava a massa, em referência ao atacante do Botafogo, rival na decisão do título.
Se na era Pelé a torcida santista chegou a ser a segunda maior do Brasil, atrás do Flamengo, no período de seca ela teve forte redução, caindo para oitavo lugar.
Leão comemora o título com o jovem elenco campeão (Foto: Arquivo)
Bate-Bola com Marcelo Teixeira, presidente do Santos entre 2000 e 2009, em entrevista ao LANCE!Net:
Quando e por que decidiu parar de investir milhões, como fez em 2000 e 2001, e apostar na base?
Quando assumi, o Santos não tinha estrutura e pensei numa proposta de trabalho. Mas era preciso um título. E o caminho mais fácil era o Paulista. Aí apostei tudo nisso. Depois de 2001, a fonte secou, aí falei: “Chega, vamos reformular”.
Achava que poderia dar certo aquela aposta na molecada?
Não imaginávamos. Eu queria porque queria que o Santos levantasse taça a curto prazo. Quis o destino que Paulo Almeida, um jovem, fizesse isso. Estava predestinado, teve um sabor diferente.
Acredita em algo sobrenatural?
Os destinos da vida levavam para que o Santos tivesse um grupo jovem, da base, que fosse responsável por essa conquista. A evolução espiritual que alcancei nesse período foi maravilhosa. Tenho certeza de que foi obra divina, um poder de Deus. O que o Santos fez de 2002 para frente é destino de Deus. Por mais que tivesse a boa vontade, capacidade, que o grupo fosse forte, tudo levou-se em consideração, mas tem o dedo de Deus. Só pode!
Foi um divisor de águas...
Depois de 70, o Santos viveu períodos de muita oscilação... O título em 2002 foi o ponto de partida para acordar um leão adormecido. Tenho a convicção de que é o principal título após a era Pelé. Se comparar Libertadores e Brasileiro, 2002 é, para o torcedor, inigualável. Depois vieram vários títulos, deixando o torcedor acostumado. Lá eram momentos de torcidas rivais satirizarem, chamarem de viúva de Pelé. “Pelé parou, o Santos acabou”. Incomodava a gente.