Bruno Cassucci e Marcio Porto - 08/12/2012 - 06:00 Santos (SP)
A temporada irregular pelo Santos não fez de Muricy Ramalho um sujeito mais modesto ou diminuiu seu carinho pelo clube. Pelo menos no discurso, o técnico faz questão de enaltecer suas virtudes e lança juras de amor ao Peixe.
Muricy recebeu a reportagem do LANCE!Net no CT Rei Pelé na última semana de atividades com o grupo e não hesitou antes de dizer que é um técnico barato, mesmo recebendo cerca de R$ 600 mil mensais de salário. Feliz na Baixada, também disse que está disposto a aceitar um projeto do Santos para encerrar a carreira no clube. O fim está próximo? Confira a entrevista abaixo.
Da última vez que falou com o LANCE!Net, você prometeu acabar com a concentração. Isso não aconteceu. Por quê?
A gente diminuiu bastante, né? Mas isso é uma cultura que os atletas ainda vão ter de conquistar. Quando estiverem prontos, vamos fazer. Mas ainda não estão. Depende do jogador. Cometeu algum deslize, não tem como. Mas um dia vai acabar.
Grupo jovem atrapalha?
Às vezes, não. O Victor Andrade tem hábitos saudáveis, então você pode largá-lo. O Neymar é outro. Vai nas baladinhas dele, mas não tem nada especial. Essa geração é muito saudável, só fica no videogame, essas porcarias. E é muito duro ficar concentrado.
Então no grupo você identificou alguns assim este ano.
Esse um ou dois a gente tira. E é assim que vai continuar a conversa. Vários não podem pagar por um ou dois. Se um ou dois foge da linha, você tira.
Um estudo divulgado recentemente mostrou que os técnicos no Brasil são os que possuem salário mais alto. É muito caro?
Cada caso é um caso. No São Paulo, tinha um jogador que valia R$ 0 e quando tinha 17 anos (Muricy fala de Breno, zagueiro vendido ao Bayern de Munique, da Alemanha, em 2007) eu o coloquei para jogar, e tem de ter coragem para colocá-lo. Depois de seis meses, ele foi vendido por 19 milhões de doláres. Então eu estou barato.
Se acha mesmo barato?
Todo time que vou contrato pouco jogadores, não gasto, e os times valorizam muito e vendem. Então, sou barato. Se eu fosse viver só de porcentagem, sem salário, estaria rico, muito rico. Tem de ver esse lado, da valorização. Falam que o cara ganha muito, mas tem de ver por que ganha, por que todo mundo quer contratar o cara. O mesmo se aplica aos jogadores.
Você tem falado algumas vezes em fim de carreira. Quando será?
Não sei, não tenho um momento certo. Queria trabalhar com meu filho, da preparação física, e depois mais dois anos, mas ele não quer mais e respeito. Quero ficar aqui, não quero sair. Achei o lugar que gosto. A diretoria que fazer um projeto de aposentadoria e acho que vou aceitar esse projeto, acho que vou me aposentar aqui.
Quando para, então?
Quando não tiver mais feliz. Queriam fazer contrato até o fim da gestão (2014), mas vamos esperar. Acho que é injusto. Às vezes o time não vai bem, querem te mandar embora e não podem, porque a multa é altíssima. Para mim seria uma aposentadoria cômoda.
Mas você reclamou da busca por reforços recentemente.
Falei que estava demorando, mas os caras são amigos. É igual uma empresa grande, não pode falar mole, tem de cobrar.
Dá para montar time forte para o ano que vem?
Dá e temos de fazer, foi definido. Claro que se não der os que queremos vamos atrás de outros. A diretoria não gasta o que não pode, mas acho que vão fazer. Temos de ter time para o ano todo.
Como avalia 2012?
Jogamos o primeiro semestre para ganhar, tínhamos time e brigamos pelo que podíamos. Depois, demos até sorte porque ficamos em momento muito ruim.
