sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Assunção bate repórter em desafio e admite encerrar a carreira neste ano


Quem viu, viu. Quem não viu, possivelmente só terá até o final do ano para ver. Tido como um dos mais letais cobradores de falta do Brasil nos últimos anos, Marcos Assunção, 37 anos, já não esconde que 2013 será o último da carreira. O volante admite que está ficando "cansado" do futebol e que, se tivesse que tomar uma decisão hoje, penduraria as chuteiras em dezembro.


Isso não significa que Assunção esteja infeliz no Santos, clube para o qual retornou em janeiro após quase 14 anos, ou decepcionado com as 20 temporadas dentro das quatro linhas, dez delas no Velho Continente. Muito pelo contrário.


- Eu sou abençoado. Tenho uma carreira consolidada. Posso dizer que joguei com e contra os melhores. Eu não me arrependo nada de ter vindo para o Santos. Sou santista, meus tios e primos são santistas... Estou muito feliz. É o time que eu amo desde pequeno – garante.


E para mostrar que não é por razões técnicas que o fim de carreira está próximo, Assunção aceitou um desafio do GLOBOESPORTE.COM. A missão? Ver quem acertaria mais vezes uma cobrança de falta no travessão de um dos gols do CT Rei Pelé, em Santos. O adversário foi o repórter Alexandre Lopes – que, como era de se esperar, não teve chances contra o camisa 20.


O volante venceu o desafio por uma bola a zero, e não perdeu a oportunidade até de tirar uma onda do “rival” que, em uma das cobranças, arrancou um tufo de grama do campo. Antes disso, no entanto, o papo foi sério. Durante quase 15 minutos, Assunção falou sobre a rotina de subir e descer a Serra do Mar diariamente (ele mora em Caieiras, a 144 quilômetros de Santos), o momento que vive em sua segunda passagem pelo Alvinegro e as mágoas de ex-dirigentes do Palmeiras, clube que defendeu por dois anos e meio e do qual saiu em janeiro.


Info_MARCOS-ASSUNCAO_Santos (Foto: Infoesporte)


Confira, abaixo, os principais trechos da entrevista


Para começar, como é o Marcos Assunção fora de campo?

Marcos Assunção é amigo, gente boa, parceiro... Um cara que gosta de estar com os amigos e a família o tempo todo. Só me distancio quando tem jogo ou treino. Fora isso, eu estou sempre em Caieiras com eles (família).


Como é essa rotina de subir e descer a Serra do Mar todo dia, para morar em Caieiras e treinar em Santos? Por que essa opção?

Não é que eu fiz uma opção... Eu sou de lá. E depois que a gente tem filhos e esposa, não manda em mais nada. Quem manda são eles (risos). Eu já tinha pagado o colégio das crianças. A minha filha, Nicole, tem nove anos e estuda com as mesmas amigas há muito tempo, e não quis mudar. Então, para não ficar aqui (em Santos) sozinho, prefiro subir e descer. Uso o Rodoanel e a Serra (do Mar), faço o caminho em uma hora e meia, não tem trânsito...


Falando de futebol, quem foram os maiores craques com quem você já atuou?

Teve muita gente... Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo, Edmundo, Romário, Zidane, Del Piero, Rivaldo, Amoroso, Denílson, Zé Roberto... Eu sou abençoado. Tenho uma carreira consolidada. Posso dizer que joguei com e contra os melhores. Minha carreira está chegando ao fim, mas gostei dela, da minha trajetória no futebol, de ter jogado com e contra grandes jogadores, atuado por grandes clubes, ter chegado à seleção brasileira... Sou um cara realizado no futebol. Poucos jogadores conseguem fazer o que fiz, ficar tanto tempo fora do Brasil (dez anos) e fazer amigos.


Marcos Assunção, Santos (Foto: Lincoln Chaves)Marcos Assunção afirma não se arrepender de ter voltado ao Santos (Foto: Lincoln Chaves)


Para ter a eficiência que você tem nas cobranças de falta, há alguma espécie de ritual antes de bater na bola?

Cada jogador tem um modo de bater na bola, um jeito de bater faltas. Muitos jogadores colocam o bico da bola para cima, para o lado... Eu coloco para baixo. Alguns tomam muita distância (para chutar), eu dou três passos para trás só e chuto. Então, não tem muito ritual. O negócio é treino. E eu treino muito, sempre treinei, desde quando comecei no Rio Branco (de Americana). Às vezes você treina muito e, no jogo, não acontece nenhuma (falta). Mas, se acontece, você tem a chance de fazer seu time conseguir a vitória.


O Marcos Senna, seu primo, está hoje no futebol dos Estados Unidos. Nessa reta final da carreira, gostaria de jogar ao lado dele?

Jogar ao lado não sei (se será possível), mas eu até gostaria de jogar nos Estados Unidos. Antes tinha mais vontade, mas a gente sabe que está chegando meu final (de carreira). Já fiz 37 anos e vou te falar a verdade: já estou ficando cansado. É algo que vou pensar muito, se vou continuar jogando ou não depois que terminar meu contrato aqui no Santos. Se fosse pensar por hoje, no final do ano eu paro. Estou cansado... São 20 anos no futebol, muita coisa passou nessa minha carreira. Não sei se eu irei (continuar jogando em 2014). Essa vontade está acabando. Antes era maior, agora está diminuindo. Não sei o que farei depois, mas acho que vou parar.



Com o clube, a torcida e os companheiros, não. Existe mágoa com pessoas que deixaram comando do Palmeiras, que prometeram coisas e não cumpriram. Eu tentei ser o mais honesto possível, mas no final acho que não foram (honestos) comigo"


Marcos Assunção, sobre a saída do Palmeiras



Foram duas temporadas e meia no Palmeiras, um clube com o qual você também se identificou bastante. Ficou alguma mágoa pela forma como você acabou saindo do clube?

Com o clube, a torcida e os companheiros, não. Existe mágoa com pessoas que deixaram o comando do Palmeiras, que prometeram coisas e não cumpriram. Eu tentei ser o mais honesto possível, mas no final acho que não foram (honestos) comigo. Isso é que magoa no futebol. Minha saída (do Palmeiras) foi por isso. Graças a Deus, tenho amizades grandes lá. Funcionários me ligam, jogadores me ligam, torcedores também... Tenho boa relação com todos e um carinho enorme pela torcida e pelo Palmeiras. Torço por eles, acompanho a trajetória, quero que o Palmeiras suba. Um time com a torcida que Palmeiras tem não pode ficar na segunda divisão e, com a campanha que estão fazendo, com certeza, vão subir.


Você atuou pouco nesse retorno ao Santos, embora tenha sido titular em algumas das últimas partidas da equipe. Acredita que acertou ao voltar ao clube onde você apareceu para o futebol?

Eu não me arrependo nada de ter vindo para o Santos. Sou santista desde pequeno, meus tios e primos são santistas... Quando vim para cá da primeira vez (em 1995, ficou até 1997) foi uma satisfação, uma alegria enorme. O Santos tem um grupo de jogadores maravilhoso, o ambiente é muito bom. Isso é fundamental. Quanto a estar jogando ou não, eu jamais, nas entrevistas que dei na minha carreira, fiz polêmica de jogar ou não. Fiquei um tempo sem jogar, então é normal que o jogador fique chateado, mas jamais fiz polêmica. Penso o seguinte: quando o treinador te coloca pra jogar, ele não dá explicação de por que está te colocando. Quando ele te tira, não tem que dar explicação de por que está tirando. É decisão dele. O treinador tem de ver o que é melhor para o time. Estou muito feliz no Santos. É o time que eu amo desde pequeno.