segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Um campeonato, dois campeões: Conheça a história do Paulista de 73


Um campeonato, dois campeões. Santos e Portuguesa escreveram a história do futebol brasileiro na tarde de 26 de agosto de 1973. A final do Campeonato Paulista daquele ano contou com a presença de mais de 116 mil pessoas nas arquibancadas do estádio Cicero Pompeu de Toledo, Morumbi. Desta vez os holofotes não foram direcionados para as estrelas do Peixe e da Lusa, mas sim a um personagem que se tornaria o protagonista da final do paulista daquele ano: o árbitro Armando Marques, que errou na contagem da decisão por pênaltis, o que acarretou na divisão do título entre as equipes. A famosa decisão completa, nesta segunda-feira, 40 anos. (confira reportagem especial sobre a final no vídeo acima).


Bastidores da final


Marinho Peres(a direita), relembra os bastidores da final (Foto: Antonio Marcos)Marinho Peres(à direita), relembra os bastidores

da final (Foto: Antonio Marcos)


Mesmo sem condições de jogo, Marinho Peres, zagueiro titular do Santos e capitão da seleção brasileira na Copa da Alemanha, em 1974, foi relacionado para a decisão contra seu ex-time, a Lusa.


- O Pepe pediu para que eu fosse com a delegação do Santos e sentasse no banco para qualquer coisa, porque conhecia o time da Portuguesa. Na hora da decisão por pênaltis, eu gritava para o goleiro Cejas o canto que cada um da Portuguesa costumava chutar, errei um palpite só, os outros dois eu acertei, só que os caras chutaram para fora (risos) - comenta Marinho.


Por conta de ter jogado na Lusa antes de se transferir para o Santos, Marinho carrega até hoje as brincadeiras que ouvia dos colegas de Portuguesa por não ter jogado a finalíssima.


- Eu me lesionei batendo pênalti no treino, e não pude participar da final. Daí eu fui motivo de gozação dos colegas da Portuguesa. Ficou um pouco ruim pra mim na época, comentavam que eu não joguei porque “tremi”, mas nesta vida você só triunfa se der a cara para bater. Se ficar escondido, omisso, não consegue. Com certeza, foi um momento muito difícil para superar, mas graças a Deus dei a volta por cima e no ano seguinte fui para Copa do Mundo - conclui.


Durante os 90 minutos


Capitão da Portuguesa, Badeco revela que a preocupação da zaga rubro-verde era muito grande com o Edu, ponta esquerda do Peixe.


- Me lembro de uma situação fácil de descrever. Eu e o Cardoso (lateral direito da Lusa) tínhamos que marcar o Edu, um ponta excepcional, não vi nenhum jogador com aquelas qualidades de dribles em velocidade e uma técnica tão apurada. Nós tínhamos combinado que se ele (Edu) saísse pela esquerda, o Cardoso daria combate. Mas, se o Edu trouxesse a bola para o meio, eu marcaria. O jogo tinha acabado de começar e o Edu saiu para a direita do Cardoso, que deu uma entrada forte no camisa 11.


Irritado com a entrada do lateral sobre o ponta-esquerda do Peixe, Pelé se aproximou de Cardoso, e segundo Badeco, o Rei do Futebol fez uso da experiência intimidando apenas com um olhar.


- Quando o Pelé chegou e olhou fixamente para o Cardosinho, imaginei que o “negócio” não iria ficar bom – conta Badeco.


Passados alguns minutos após a falta marcada sobre Edu, o capitão da Portuguesa tentou acalmar o eterno camisa 10 alvinegro.


- O “Rei”! Você tem todos os títulos imagináveis que um jogador pode ter, poxa. Ele (Cardoso) não tem nenhum e você quer chegar junto no Cardosinho? Como é que você quer que marquemos o Edu? Quer que pegue a bandeirinha e de nas pernas dele? Só tem esta maneira. Por que você não o marca? O Rei olhou para mim e disse que eu estava querendo muito, ambos sorrimos, e a partida seguiu – lembra Badeco.


Polêmica na prorrogação e decisão por pênaltis


O jornalista José Carlos Gomes, mais conhecido como Passarinho, lembra sobre a crônica esportiva da época e recorda um gol da Portuguesa mal anulado pela arbitragem durante a prorrogação.



Faz tanto tempo que não temos imagens do gol da Lusa anulado"


José Carlos Gomes, Jornalista



- Na época eu ainda não trabalhava como repórter de rádio, mas acompanhava os noticiários e ilustrava livros e álbuns de futebol. Naquele tempo não tínhamos o numero de câmeras no campo como hoje. Faz tanto tempo que não temos imagens do gol da Lusa anulado, do Cabinho. Se você perguntar para qualquer um destes ex-jogadores, nenhum deles se lembra do gol, porque isso aconteceu há muito tempo, e não existem imagens que ilustrem este momento – explica o jornalista.


Após empate sem gols no tempo normal e na prorrogação, Santos e Portuguesa foram para a decisão por pênaltis. O Peixe iniciou a série com Zé Carlos que perdeu a primeira cobrança, defendida por Zecão. Pelo Lado da Lusa, Isidoro também errou. Na sequência, Carlos Alberto e Edu marcaram para o Alvinegro, enquanto Calegari e Wilsinho perderam para o time rubro-verde. Ainda restavam às cobranças de Pelé e Jair da Costa para os santistas, além de Basílio e Enéas para o time da capital, mas o árbitro Armando Marques deu por encerrada a decisão.


Lateral do Peixe na grande final, Turcão afirma que o erro não foi apenas do árbitro.


- Com bastante sinceridade, no momento foi uma frustração terrível, mas penso que a culpa não foi só do Armando Marques, foi nossa também. Não sabemos fazer conta? Ali faltou um pouquinho de aritmética, não é? Mas eu ganhei o bicho viu, pago na íntegra. Naquele ano, eu fui o terceiro jogador que mais atuou, consequentemente, meu bicho foi muito bom – conta Turcão.


Wilsinho, ex-atacante da Portuguesa, foi o último atleta a perder o pênalti na decisão.


- Quando eu perdi o pênalti, no primeiro momento penso que foi uma sensação emocional de derrota coletiva. Assim como também foi o erro (na contagem dos pênaltis), porque se analisarmos, a culpa foi direcionada apenas para uma pessoa, o Armando Marques. Mas ele não errou sozinho, erraram todos os envolvidos no momento: bandeirinhas, representante, jogadores, técnicos e dirigentes, porque o emocional não deixa você raciocinar para determinadas coisas - lembra Wilsinho.


O ex-ponta da Lusa, diz ainda que o erro ocorrido em 73, hoje seria impossível de acontecer.


- Nos dias de hoje, nós temos a tecnologia e várias pessoas auxiliando o árbitro. O que vivemos em 73, com certeza, não irá acontecer mais. Lembro que, logo depois do apito do Armando Marques, houve invasão de gramado, e tenho convicção de que naquele dia não existia mais condição de jogo – conclui Wilsinho.


chamada CARROSSEL 40 anos Santos X Portuguesa (Foto: arte esporte)Ex-jogadores de Santos e Portuguesa celebram 40 anos do título paulista de 1973 (Foto: Editoria de Arte)