Neymar gosta de usar camisa pequena. Rafael leva três pares de luvas por jogo. Emerson Sheik escolheu um calçado da sorte para a final. E Alexandre Pato herdou o espaço de Ronaldo no Pacaembu. O GLOBOESPORTE.COM acompanhou o trabalho dos roupeiros na arrumação dos vestiários antes de os jogadores chegarem para a primeira final do Paulistão, neste domingo, em São Paulo. Acompanhe também como funciona este trabalho no vídeo ao lado e na galeria de fotos abaixo.
Deixar o vestiário arrumado é uma "partida" que três profissionais - dois no Corinthians e um no Santos - têm de encarar cada vez que suas equipes vão a campo. E este jogo começa cedo. Em Santos, às 7h, Vágner Salada entra no CT Rei Pelé para guardar toalhas, camisas, shorts e 50 pares de chuteiras, entre outros itens, para levar ao Pacaembu. Ao todo, quase 600 quilos de bagagem são separados para atender às necessidades de jogadores e comissão técnica.
- É sempre melhor sobrar do que faltar - resumiu ele, que está no cargo há quatro anos no Santos, depois de exercê-lo por 17 temporadas no União São João, de Araras-SP.
O mesmo acontece no Corinthians. Edizio Borges de Almeida e Roberto Sousa Santos têm mais de 20 anos de clube e dividem o trabalho na rouparia. Logo no domingo cedo eles chegam ao CT para conferir se todo o material, que eles já separaram na sexta-feira, está pronto para a decisão.
- Conferímos as coisas com calma, saímos sem pressa e ainda fazemos uma academia no clube, porque precisa ter força pra carregar todo esse peso - avisou Roberto, popularmente conhecido no dia a dia como "Roberto Negão".
Viagem, etiquetas e palmilha especial: o vestiário do Santos
Vagner Salada mostra a camisa usada por Neymar
(Foto: Marcos Ribolli)
Cada roupeiro adota seu estilo para arrumar os uniformes. Vagner Salada prefere colocar peça por peça no espaço que ele mesmo reserva para cada jogador. Como o Santos foi visitante no Pacaembu neste domingo, não há lugar marcado para cada atleta nas áreas para troca de roupa - na Vila Belmiro, cada um tem seu armário exclusivo, com fotografias estilizadas.
- Eu vou colocando uma etiqueta na parede, que eu mesmo faço, para identificar o lugar que cada jogador vai se trocar. Procuro sempre separá-los por afinidade. Os goleiros ficam juntos, o Neymar e o André, que brincam bastante, ficam um de frente ao outro. E por aí vai... - explicou.
O ritual é sempre o mesmo. Primeiro ele coloca a toalha em cada espaço, depois as camisas para aquecimento e, por fim, o uniforme de jogo até chegar às chuteiras. A de Neymar é azul, tamanho 40. A do goleiro Rafael, por exemplo, possui palmilha especial, para dar mais firmeza aos movimentos.
- Costumo trazer dois ou três pares de chuteiras para cada jogador. Trago sempre mais chuteiras para os zagueiros. Como eles jogam mais firme, a chance de rasgar é maior. O Bruno Rodrigo, por exemplo, quando esteve aqui, chegou a usar três pares em um jogo. Com o tempo, já sabemos quem é o dono de cada peça - lembrou Vagner.
- Hoje em dia é tranquilo, a maioria dos atletas tem patrocínio pessoal de chuteiras e elas são resistentes. Há alguns anos, eu tinha de engraxar e costurar alguns calçados antes das partidas - completou.
Neymar não faz muitos pedidos. O craque do Santos e animador número um do vestiário gosta apenas que sua camisa seja tamanho P. O modelo mais justo é para dificultar os marcadores de puxá-lo em campo. No espaço reservado ao craque, apenas objetos pessoais e dos seus patrocinadores.
Homenagem, chuteira da sorte e numeração especial: detalhes do lado corintiano
Roupeiro exibe a camisa de Pato com homenagem
à mãe, Roseli (Foto: Marcos Ribolli)
Para carregar cerca de 600 quilos de material até o vestiário é preciso ter força nos braços. E o Corinthians tem um ex-halterofilista como roupeiro. Edizio Borges de Almeida trabalha há 26 anos no clube, há 18 no time profissional. Já arrumou o espaço para várias gerações de atletas.
Enquanto dividia o serviço com Roberto Negão neste domingo, ele recebeu a visita do ex-jogador Neto, hoje comentarista de rádio e televisão. Depois de um abraço e um beijo no ex-companheiro de clube e um rápido diálogo, seguiu arrumando as chuteiras e os três jogos de camisa que levou ao Pacaembu, todas com nomes especiais nas costas.
- Sempre trazemos três jogos de camisas para as partidas em casa e seis para os fora. Uma camisa para o primeiro tempo, uma para o segundo e outra de reserva, sempre novas. Hoje (domingo), elas têm uma novidade, que é o nome da mãe dos jogadores nas costas - explicou Edizio.
Mandante na primeira decisão, os jogadores do Corinthians estavam em casa. Eles possuem lugares fixos nos espaços para trocas de roupa. Alexandre Pato, recém-chegado, herdou o lugar de Ronaldo, na primeira cabine. E ficou também com o armário do Fenômeno no CT, o número 3.
- Separamos a roupa dos jogadores pelo número do armário no CT. O Pato, por exemplo, usa o número 3. Esse kit número 23 não é do Jorge Henrique, é do Guerrero - disse Roberto, mostrando a chuteira do atacante, que possui a bandeira do Peru.
Todo este trabalho é feito com muita música. Roberto exibe com orgulho a caixa de som que ganhou de presente do volante Paulinho, autor do primeiro gol do clássico neste domingo. Ele conecta o amplificador na rádio e escuta músicas e, na sequência, a partida.
- Nós sofremos, viu! Além de funcionários, somos torcedores - contou.
Pra finalizar, Roberto recebeu um pedido de Emerson Sheik durante a semana. O camisa 11 queria usar no clássico uma chuteira amarela, que já foi importante a ele. O objeto foi o mesmo usado no ano passado, no primeiro duelo da semifinal contra o Peixe, na Vila Belmiro. Na ocasião, o atleta marcou um golaço e garantiu a vantagem de sua equipe para o jogo de volta.
- Ele pediu a chuteira e ela está aqui. Espero que traga sorte outra vez - finalizou.
Vestiários de Corinthians e Santos, no Pacaembu, antes da decisão (Foto: Marcos Ribolli)