Muricy Ramalho e Tite disputarão, neste domingo, o título do Cameponato Paulista. O santista luta pela quarta conquista, terceira consecutiva, enquanto o comandante do Corinthians tentará levantar o troféu estadual pela primeira vez. Números que poderiam ser diferentes, e começaram a ser decididos no dia 16 de fevereiro de 2004. Naquela segunda-feira à tarde, a diretoria do São Caetano se reuniu, insatisfeita com a sexta colocação no Grupo 2 do Paulistão, e decidiu trocar o treinador. Demitiu Tite, e contratou Muricy. Uma decisão que deu o pontapé inicial na gloriosa carreira de um deles no estado de São Paulo, e deixou forte mágoa no coração de outro.
Tite e Muricy no São Caetano. O primeiro montou o time que o segundo levou ao título (Foto: Editoria de Arte)
Na época de ouro do São Caetano, os técnicos comandavam um timaço com jogadores como Mineiro e Gilberto, que disputaram a Copa do Mundo de 2006, já por outros clubes, e destaques como Marcelo Mattos, Marcinho, Euller, Fabrício Carvalho, Anderson Lima... Até hoje, Tite não se conforma com a demissão. Tem convicção de que poderia ter sido campeão paulista, assim como Muricy Ramalho, que assumiu, melhorou a posição na tabela e deu a volta olímpica.
O gaúcho, hoje no Timão, havia classificado o Azulão para a Libertadores na última rodada do Brasileirão de 2003. Por ironia do destino, com uma goleada sobre o Internacional, concorrente direto à vaga, e dirigido por Muricy. Empolgado, mudou-se com toda a família para a cidade de São Caetano do Sul, no ABC, região da Grande São Paulo. Matriculou os filhos na escola, e tinha relação próxima com dirigentes, que frequentavam até sua casa. A saída foi um baque.
- O Tite foi o grande responsável pela formação daquela equipe. Ele trouxe praticamente todos os jogadores a dedo, e depois o Muricy só complementou com seu jeito mais simples de conduzir, mais malandrão. Foi um trabalho dos dois. São dois treinadores com estilos diferentes, mas muito competentes e vencedores - afirma o ex-lateral-direito Anderson Lima.
No Corinthians, Tite festeja ter feito seu primeiro trabalho com início, meio e fim no estado de São Paulo, após tentativas frustradas no Palmeiras, no próprio Timão, entre 2004 e 2005, e no São Caetano. A possibilidade daquele título paulista poderia ter antecipado seu sucesso, mas acabou marcando a carreira de Muricy Ramalho.
Hoje no Santos, Muricy conquistou o Paulistão 2004
pelo Azulão (Foto: Ivan Storti / Site Oficial do Santos)
O técnico já era campeão estadual em Pernambuco, pelo Náutico, e no Rio Grande do Sul, com o Internacional. Ao assumir o lugar de Tite e vencer o Paulistão, reabriu o mercado paulista, onde conquistaria no futuro três Brasileiros e uma Libertadores por São Paulo e Santos. Muricy conseguiu mesclar a bola parada, uma de suas maiores marcas, com as cobranças de Anderson Lima e o cabeceio de Fabrício Carvalho, com um futebol que chamava atenção.
Parte da diretoria campeã em 2004 amarga, hoje, o mau momento do São Caetano, que disputa a Série B do Campeonato Brasileiro e foi rebaixado no mês passado para a segunda divisão do Paulista. Diretor de futebol há nove anos, Genivaldo Leal fala com saudade dos tempos em que o clube brigava pelos principais títulos. E, apesar da conquista com Muricy, admite que a troca de comandante foi um erro.
Tite levou o São Caetano à Libertadores
(Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
- Naquele momento nos precipitamos. Tanto um quanto outro tinha condições de ganhar. Dirigentes também cometem muitos erros, não deveríamos ter trocado. A qualidade dois dois foi muito importante. Os dois estão na história do São Caetano. Foi um erro naquele momento, assim como foi um erro a saída do Muricy - reconhece Leal, até hoje no cargo.
Arrependimentos à parte, a campanha do Azulão melhorou demais com Muricy. Com o time ainda sendo formado por Tite, foram quatro empates, uma vitória e uma derrota para o Marília, que sacramentou a demissão. O substituto venceu oito partidas e empatou uma. Eliminou o São Paulo nas quartas de final, o Santos na semi, e passou pelo Paulista na decisão. Mesmo assim, quem participou daquela campanha, hoje, faz questão de "dividir" o título.
- O Muricy tem aquele jeito fechadão, mais durão, carrancudo, mas é um baita profissional. O Tite era um paizão, abraçava todo mundo, batia no peito. Aprendemos muito com os dois. Fico feliz pelo sucesso de ambos - elogia Leal.