Marcelo Teixeira, ex-presidente do Santos
(Foto: Globoesporte.com)
O empréstimo que o Santos tomou da Universidade Santa Cecília, dirigida pelo ex-presidente Marcelo Teixeira, para o pagamento de parte dos salários atrasados do elenco, pode criar complicações para o atual mandatário, Modesto Roma Júnior, no Conselho Deliberativo do clube. A transação, supostamente irregular, teria ferido o estatuto santista.
O documento que rege a agremiação determina que toda a administração seja comandada pelo Comitê de Gestão, um colegiado formado por sete membros, além do presidente e de seu vice. Conforme o estatuto, as decisões só podem ser tomadas em reuniões com a presença de ao menos cinco pessoas, por maioria simples de votos.
Acontece que o empréstimo se deu em 13 de janeiro, dois dias antes de o novo Comitê de Gestão tomar posse – o que impossibilitaria que os membros pudessem se reunir para avalizar o negócio com a instituição de Teixeira, principal apoiador de Modesto durante a campanha para as eleições de dezembro.
- Foi irregular. Essa operação teria que ser aprovada pelo Comitê, que só foi homologado no dia 15. Vou levar essa questão ao Conselho na próxima reunião para pedir explicações – afirmou o conselheiro Paulo Schiff, que presidiu o órgão até dezembro.
Ele cita dois artigos do estatuto: o 63, que diz que “o Comitê de Gestão reunir-se-á, sempre sob a presidência do Presidente do Comitê de Gestão, no mínimo, uma vez por quinzena, e só poderá tomar decisões com a presença de, no mínimo, 5 (cinco) membros, e por maioria simples de votos de seus membros, tendo o Presidente do Comitê de Gestão, em caso de empate, o voto de qualidade”; e o item E do artigo 64, que aponta que “compete ao Comitê de Gestão, além das demais atribuições que lhe são conferidas por este Estatuto: aprovar operações financeiras, bancárias e de câmbio, bem como empréstimos e contratos que criem obrigações para o Santos, respeitado o orçamento do Santos para o exercício social”.
Modesto Roma Júnior com Marcelo Teixeira durante a campanha para presidente (Foto: Lincoln Chaves)
O empréstimo revelado pela ESPN Brasil foi admitido por Modesto nesta sexta-feira, um dia depois de ele, em entrevista coletiva, negar veementemente a possibilidade de contar com a ajuda financeira de Marcelo Teixeira em seu mandato, que começa sob grave crise econômica.
- O Santos tem que andar com suas pernas. O Marcelo é um cara de uma grandeza e postura irrepreensível. Amigo meu, amigo do Santos muito mais. O Marcelo tem tido uma colaboração imensa, mas o Santos tem que aprender a andar com as próprias pernas. Não pode mais usar muletas. Não pode mais ficar dependendo de mecenas. Lugar de pedir dinheiro emprestado é no banco – disse o cartola, na quinta-feira.
O atual presidente, que é contrário à existência do Comitê de Gestão, tem sido pressionado por membros do colegiado, que pedem maiores poderes na administração do clube. Eles temem papel apenas figurativo no dia a dia do Santos, que contratou o diretor-executivo Dagoberto dos Santos para centralizar a maior parte das decisões, especialmente as ligadas ao futebol profissional.
O estatuto do clube prevê punições ao seu descumprimento que, no caso de Modesto, pode, em último caso, levar a seu impedimento, segundo o item D do artigo 68: “São motivos para pedir o impedimento do Presidente e do Vice-Presidente do Comitê de Gestão do Santos ter ele infringido, por ação ou omissão, expressa ordem estatutária.”
A reportagem procurou o clube em busca de um posicionamento do atual presidente, mas não conseguiu contato até a publicação.