Em dezembro do ano passado, quando foram comemorados os dez anos da conquista do Campeonato Brasileiro de 2002 pelo Santos, jogadores da época, como Robinho , Diego, Robert, Michel, Douglas e Wellington prestaram depoimentos ao GLOBOESPORTE.COM, relembrando histórias curiosas do time que recolocou o Peixe no topo do futebol nacional. Histórias essas que, há três anos, levaram o jornalista Paulo Rogério, dos jornais "A Tribuna" e "Expresso Popular", de Santos, a se aprofundar nos bastidores da conquista alvinegra. O resultado do trabalho será transformado em livro, a ser publicado ainda este ano.
O material, porém, não se resume a palavras de atletas, dirigentes e integrantes da comissão técnica campeã em 2002. As "aventuras" de Paulo Rogério para conclusão do trabalho, por si só, também rendem histórias curiosas. Que o digam as entrevistas com o atacante Robinho, feita no carro do "Rei das Pedaladas", e com o volante Paulo Almeida, depois de 26 horas de viagem (ida e volta) dentro de um ônibus.
Para falar com Paulo Almeida, jornalista gastou 26 horas (ida e volta) em um ônibus (Foto: Arquivo Pessoal)
Tudo começou em 2009, quando o jornalista concluiu uma matéria especial sobre os 15 anos do tetracampeonato da seleção brasileira (1994). De acordo com Rogério, em meio a apuração e a pesquisa sobre datas significativas para os anos seguintes, veio a lembrança de que, em 2012, seriam comemorados os 50 anos do primeiro título mundial do Santos (1962) e os dez anos da conquista do Brasileirão de 2002. Foi quando se concluiu que o feito dos Meninos da Vila daria mais "pano para manga".
- Comecei a avaliar a dimensão que o assunto tinha. O fato do Santos estar há 18 anos na fila, ter acabado de sair de duas decepções, com um time de medalhões que não ganhou (vice-campeão paulista em 2000) e outra com aquele gol do Ricardinho em 2001 (eliminação para o Corinthians na semifinal do Paulistão), por ser um time desacreditado, montado para não cair, que perdeu o goleiro titular (Fábio Costa se contundiu) na primeira fase, que se classificou em oitavo lugar e eliminou o melhor time do campeonato (São Paulo), fez a final com o Corinthians... Era muita história junta - conta.
O trabalho de campo teve início em 2010. Primeiro com Barbosa, preparador físico daquele Santos e substituto de Emerson Leão nos minutos finais do segundo jogo da decisão - o treinador foi expulso. Depois, com o à época presidente do clube, Marcelo Teixeira.
- Senti que (o assunto) dava jogo e comecei a procurar o restante do time - recorda.
Vale até papo no carro...
Renato também prestou depoimento a livro sobre
título de 2002 (Foto: Arquivo Pessoal)
Fábio Costa; Maurinho, André Luís, Alex e Léo; Paulo Almeida, Renato, Elano e Diego; Robinho e Alberto. Dos onze titulares em 2002, apenas o lateral-direito não foi encontrado para deixar um depoimento à obra de Rogério. Também foram ouvidos o goleiro Júlio Sérgio (que hoje defende o Roma, da Itália), o zagueiro Preto (atualmente na Portuguesa Santista), o meia Robert (aposentado) e o atacante William (na Ponte Preta), além de Leão, do médico Carlos Braga e de Celso Roth, treinador que comandou o Peixe antes do Brasileirão.
- O Braga eu procurei por causa da contusão do Fábio Costa e também para ele dar a versão dele sobre o fato do Diego ter saído da final com menos de um minuto de jogo, quando todo mundo dizia que ele tinha condições. Então, daquele minuto em que o Diego sai e entra o Robert, eu tenho os depoimentos dos dois, do Leão e do Braga. O Leão confiava no médico e não disse nada contra ele. O Diego também não. Na parte clínica, ele estava bem - lembra.
De acordo com Rogério, algumas entrevistas foram surpreendentes não só pelo que foi abordado, mas pela forma como as mesmas ocorreram. Uma delas foi com Robinho.
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- Eu estava no apartamento dele em Santos e tinha um pessoal de uma revista para uma entrevista rápida. Quando chegou na minha vez, ele tinha de sair. Aí, ele falou pra mim, "Eu vou até a Vila. Vai no meu carro e a gente vai conversando". De repente, eu me vi no carro do Robinho, só eu e ele, e eu segurando o volante para ele colocar o cinto de segurança (risos) - recorda.
A mais inusitada de todas as conversas, porém, foi com Paulo Almeida, capitão do time campeão em 2002. Isso porque, para conversar com o volante, Rogério passou 26 horas dentro de um ônibus (ida e volta), no caminho de Santos a Itumbiara (GO), onde o jogador atuava. Isso tudo durante um final de semana de folga, e com recursos próprios.
- Inicialmente, eu ia na casa dele, na Bahia. Naquela semana, ele assinou com o Itumbiara, e eu mudei o roteiro. Saí de Santos em um sábado a noite, entrei no ônibus e fui até lá. Cheguei domingo de manhã, falei com ele, no domingo à noite peguei outro ônibus e segunda de manhã estava de volta. Até hoje, não sei qual foi o "investimento" no livro. Nunca fiz as contas. As passagens o cartão de crédito parcelado garantiu - conta.
Título de uma vida
O trabalho foi concluído em meados do ano passado, após a entrevista com o zagueiro André Luís. Antes disso, no entanto, o jornalista já vinha escrevendo a obra, com base no material coletado a partir de maio de 2001, no arquivo do jornal "A Tribuna". Depois do trabalho concluído, a constatação: o título de fato foi inesperado, e para a grande maioria - em que pese o sucesso posterior de alguns - aquela foi a maior conquista da carreira.
- O que ficou claro para mim é que, lá dentro, ninguém achava que o time poderia cair, mas que o título era impensável até o Santos eliminar o São Paulo. Por tudo o que tinha envolvido, acabou se tornando o mais importante sim. Claro, não em termos de grandeza, nisso a Libertadores é imbatível, mas pela forma como aconteceu. Resgatou a autoestima do torcedor e trouxe a rotina de títulos de volta. Foi o título da vida. De um Robinho que se consagrou a um Alberto que torcia pelo Santos e a um Robert que estava na final de 1995 - conclui.
Robinho e Diego comemoram título brasileiro do Santos, em 2002 (Foto: Divulgação / Site Oficial do Santos)