sábado, 6 de abril de 2013

Autor de livro sobre título brasileiro de 2002 recorda entrevistas inusitadas


Em dezembro do ano passado, quando foram comemorados os dez anos da conquista do Campeonato Brasileiro de 2002 pelo Santos, jogadores da época, como Robinho , Diego, Robert, Michel, Douglas e Wellington prestaram depoimentos ao GLOBOESPORTE.COM, relembrando histórias curiosas do time que recolocou o Peixe no topo do futebol nacional. Histórias essas que, há três anos, levaram o jornalista Paulo Rogério, dos jornais "A Tribuna" e "Expresso Popular", de Santos, a se aprofundar nos bastidores da conquista alvinegra. O resultado do trabalho será transformado em livro, a ser publicado ainda este ano.


O material, porém, não se resume a palavras de atletas, dirigentes e integrantes da comissão técnica campeã em 2002. As "aventuras" de Paulo Rogério para conclusão do trabalho, por si só, também rendem histórias curiosas. Que o digam as entrevistas com o atacante Robinho, feita no carro do "Rei das Pedaladas", e com o volante Paulo Almeida, depois de 26 horas de viagem (ida e volta) dentro de um ônibus.


Paulo Almeida e Paulo Rogério (Foto: Arquivo Pessoal)Para falar com Paulo Almeida, jornalista gastou 26 horas (ida e volta) em um ônibus (Foto: Arquivo Pessoal)


Tudo começou em 2009, quando o jornalista concluiu uma matéria especial sobre os 15 anos do tetracampeonato da seleção brasileira (1994). De acordo com Rogério, em meio a apuração e a pesquisa sobre datas significativas para os anos seguintes, veio a lembrança de que, em 2012, seriam comemorados os 50 anos do primeiro título mundial do Santos (1962) e os dez anos da conquista do Brasileirão de 2002. Foi quando se concluiu que o feito dos Meninos da Vila daria mais "pano para manga".


- Comecei a avaliar a dimensão que o assunto tinha. O fato do Santos estar há 18 anos na fila, ter acabado de sair de duas decepções, com um time de medalhões que não ganhou (vice-campeão paulista em 2000) e outra com aquele gol do Ricardinho em 2001 (eliminação para o Corinthians na semifinal do Paulistão), por ser um time desacreditado, montado para não cair, que perdeu o goleiro titular (Fábio Costa se contundiu) na primeira fase, que se classificou em oitavo lugar e eliminou o melhor time do campeonato (São Paulo), fez a final com o Corinthians... Era muita história junta - conta.


O trabalho de campo teve início em 2010. Primeiro com Barbosa, preparador físico daquele Santos e substituto de Emerson Leão nos minutos finais do segundo jogo da decisão - o treinador foi expulso. Depois, com o à época presidente do clube, Marcelo Teixeira.


- Senti que (o assunto) dava jogo e comecei a procurar o restante do time - recorda.


Vale até papo no carro...


Renato e Paulo Rogério (Foto: Arquivo Pessoal)Renato também prestou depoimento a livro sobre

título de 2002 (Foto: Arquivo Pessoal)


Fábio Costa; Maurinho, André Luís, Alex e Léo; Paulo Almeida, Renato, Elano e Diego; Robinho e Alberto. Dos onze titulares em 2002, apenas o lateral-direito não foi encontrado para deixar um depoimento à obra de Rogério. Também foram ouvidos o goleiro Júlio Sérgio (que hoje defende o Roma, da Itália), o zagueiro Preto (atualmente na Portuguesa Santista), o meia Robert (aposentado) e o atacante William (na Ponte Preta), além de Leão, do médico Carlos Braga e de Celso Roth, treinador que comandou o Peixe antes do Brasileirão.


- O Braga eu procurei por causa da contusão do Fábio Costa e também para ele dar a versão dele sobre o fato do Diego ter saído da final com menos de um minuto de jogo, quando todo mundo dizia que ele tinha condições. Então, daquele minuto em que o Diego sai e entra o Robert, eu tenho os depoimentos dos dois, do Leão e do Braga. O Leão confiava no médico e não disse nada contra ele. O Diego também não. Na parte clínica, ele estava bem - lembra.


De acordo com Rogério, algumas entrevistas foram surpreendentes não só pelo que foi abordado, mas pela forma como as mesmas ocorreram. Uma delas foi com Robinho.



- Eu estava no apartamento dele em Santos e tinha um pessoal de uma revista para uma entrevista rápida. Quando chegou na minha vez, ele tinha de sair. Aí, ele falou pra mim, "Eu vou até a Vila. Vai no meu carro e a gente vai conversando". De repente, eu me vi no carro do Robinho, só eu e ele, e eu segurando o volante para ele colocar o cinto de segurança (risos) - recorda.


A mais inusitada de todas as conversas, porém, foi com Paulo Almeida, capitão do time campeão em 2002. Isso porque, para conversar com o volante, Rogério passou 26 horas dentro de um ônibus (ida e volta), no caminho de Santos a Itumbiara (GO), onde o jogador atuava. Isso tudo durante um final de semana de folga, e com recursos próprios.


- Inicialmente, eu ia na casa dele, na Bahia. Naquela semana, ele assinou com o Itumbiara, e eu mudei o roteiro. Saí de Santos em um sábado a noite, entrei no ônibus e fui até lá. Cheguei domingo de manhã, falei com ele, no domingo à noite peguei outro ônibus e segunda de manhã estava de volta. Até hoje, não sei qual foi o "investimento" no livro. Nunca fiz as contas. As passagens o cartão de crédito parcelado garantiu - conta.


Título de uma vida


O trabalho foi concluído em meados do ano passado, após a entrevista com o zagueiro André Luís. Antes disso, no entanto, o jornalista já vinha escrevendo a obra, com base no material coletado a partir de maio de 2001, no arquivo do jornal "A Tribuna". Depois do trabalho concluído, a constatação: o título de fato foi inesperado, e para a grande maioria - em que pese o sucesso posterior de alguns - aquela foi a maior conquista da carreira.


- O que ficou claro para mim é que, lá dentro, ninguém achava que o time poderia cair, mas que o título era impensável até o Santos eliminar o São Paulo. Por tudo o que tinha envolvido, acabou se tornando o mais importante sim. Claro, não em termos de grandeza, nisso a Libertadores é imbatível, mas pela forma como aconteceu. Resgatou a autoestima do torcedor e trouxe a rotina de títulos de volta. Foi o título da vida. De um Robinho que se consagrou a um Alberto que torcia pelo Santos e a um Robert que estava na final de 1995 - conclui.


Robinho e Diego comemoração Santos campeão 2002 especial (Foto: Divulgação / Site Oficial do Santos)Robinho e Diego comemoram título brasileiro do Santos, em 2002 (Foto: Divulgação / Site Oficial do Santos)