quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Brasuca mais 'velho' da MLS sonha com Neymar no futebol dos EUA


Paulo Nagamura brasileiro do Kansas City (Foto: Divulgação)Nagamura veste a camisa 6 (Foto: Divulgação)


A primeira vez que Paulo Roberto Corradi Nagamura entrou em um gramado norte-americano para jogar futebol aconteceu há mais de sete anos. De lá para cá, foram quatro clubes diferentes nos EUA (além do Tigres, do México) e 177 partidas, o que lhe trouxe o status de ser o atleta brasileiro que mais atuou pela Major League Soccer (MLS), o principal campeonato de futebol do país. Com tanta estrada em um local onde a bola preferida é a oval, do futebol americano, Paulo vibra ao notar o crescimento do "soccer" através da MLS, que já tem média de público superior à do Brasileirão.


Até o dia 29 de agosto, a primeira divisão do Campeonato Brasileiro registrava média de 11.812 pagantes por partida, e os estádios tinham ocupação média de 39%. Tal média é superada de longe pela da liga americana. Até o dia 3 de setembro, a atual edição da MLS contava com média de público de 18.529 e taxa de ocupação de 87,98% - em estádios com capacidade média para 21.059 pessoas.


- O futebol aqui ainda não é o primeiro esporte, mas tem crescido muito e já tem alcançado coisas que ninguém imaginava. A liga, de um modo geral, ganhou mais reconhecimento internacional, melhorias nos estádios, centro de treinamentos, qualidade técnica dos jogadores. Estamos com estádios lotados em todos os jogos da nossa equipe. É um ambiente de futebol brasileiro que estamos vivendo aqui. Hoje em dia, o futebol já está na cultura do país, claro que não tanto quanto o beisebol ou o futebol americano. Mas a torcida vem pra torcer, vaiar, apoiar o time. É gostoso, porque quando eu cheguei aqui em 2005 não tinha isso - declarou Nagamura ao GLOBOESPORTE.COM.



Com uma nova ordem mundial se desenhando aos poucos no futebol, já que centros como a Rússia e a China vêm ganhando força, Paulinho se anima e sonha com o dia no qual a Major League Soccer possa ser transmitida para o Brasil, assim como já acontece com os campeonatos Inglês, Italiano, Espanhol, Alemão, Português, Argentino, Francês e Russo.


- Acho que quanto mais dinheiro for investido, mais interesse vai trazer para o público. Mais jogadores de nome serão contratados. Imagina a MLS com jogadores como o Neymar ... Você acha que não iriam assistir aí no Brasil? Com a mentalidade que temos aqui, de ser muito organizado, acho que isso pode acontecer um dia - observou.


Estádio Kansas City (Foto: Site oficial do Sporting Kansas City)Estádio do Kansas City costuma ficar lotado (Foto: Site oficial do Seattle Sounders)


O Sporting Kansas City, clube de Paulo, realmente está entre os que têm melhor taxa de ocupação na MLS, com estádios lotados em praticamente todos os jogos. E a equipe tem feito jus ao apoio massivo dos torcedores: além de ocupar a liderança da Conferência Leste da Liga, tornou-se campeã da US Open Cup 2012 ao vencer o Seattle Sounders, clube com a maior média de público (42.610 pessoas por jogo) da MLS.


Paulo teve papel fundamental na conquista e, mais do que nunca, mostrou porque era chamado de "Kamikaze" pela torcida. Ainda no início da partida, tomou uma pancada que lhe renderia oito pontos no rosto. Então, colocou um curativo, seguiu na partida e acabou tendo a honra de garantir o título para sua equipe: na disputa de penalidades, converteu a última cobrança.


Paulo Nagamura brasileiro do Kansas City (Foto: Divulgação)Paulinho jogou a final da US Open Cup

com um curativo no rosto (Foto: Divulgação)


- Essa conquista teve um gosto diferente e jogando em casa, com a nossa torcida, a festa foi muito maior. Não ia ser um corte que ia me tirar de uma final. E graças a Deus, depois de 90 minutos, o time batalhou, acelerou e conseguiu o título contra uma equipe muito difícil, que é o Seattle. Foi uma conquista bem dura e recompensadora. A Open Cup é praticamente a Copa dos EUA, como se fosse a FA Cup na Inglaterra, onde participam todos os times de futebol do país - contou Paulinho, como é chamado, lembrando que a competição dá vaga para a Liga dos Campeões da Concacaf de 2013/14.


Esta é a segunda vez que Paulo Nagamura tem a chance de comemorar o título da US Open Cup. A primeira aconteceu logo em seu primeiro ano nos EUA, quando vestiu a camisa do Los Angeles Galaxy - time que abrigaria, no futuro, craques badalados como David Beckham e Robbie Keane. No Galaxy também conquistou a MLS do mesmo ano, a única de sua carreira. Depois de deixar Los Angeles, o brasileiro passou por Toronto FC, Chivas USA e o Tigres, do México. Então, recebeu o convite do Sporting Kansas City, equipe com apenas 16 anos de fundação e que era chamada de Kansas City Wizards até 2010.


- Vim para cá porque no ano passado eles já haviam chegado às semifinais da MLS e já tinham uma equipe muito boa. Mas também pelo projeto, pela estrutura, pelo desejo de estar na Liga dos Campeões da Concacaf. O time pensa grande, pensa em ser o maior dos EUA, de ter nome na Concacaf. E vamos passo a passo. Conquistamos a Copa e queremos o “doublé”, que seria ganhar a Liga também.


Paulo Nagamura brasileiro do Kansas City (Foto: Divulgação)Brasileiro comemora seu primeiro título nos EUA, com o LA Galaxy, em 2005 (Foto: Divulgação)


Paulinho foi formado nas categorias de base do São Paulo - na mesma geração de Kaká - e terminou sua formação como atleta no Arsenal. No time de Londres, ainda atuou na equipe B e treinou com jogadores como Henry (que hoje joga na MLS, pelo New York RB). A essa fase, atribui muito de seu crescimento profissional. Uma lesão, porém, tirou parte de sua esperança de seguir na carreira de "boleiro". Até que o mercado americano surgiu e o permitiu seguir seu sonho.


- Foi o destino mesmo. A oportunidade veio quando eu tava saindo do Arsenal. Estava lesionado e até um pouco desiludido com o futebol. Então, a chance veio. Era uma liga que ninguém conhecia muito, mas foi um desafio que encarei na vida. A liga cresceu e o futebol aqui cresceu. Me ajudou muito passar por São Paulo e Arsenal, e não me arrependo de nada - afirmou, dizendo ter "muitos sonhos" para a carreira, entre eles, chegar ao Mundial de Clubes.


Paulo Nagamura brasileiro do Kansas City (Foto: Divulgação)Nagamura já marcou Zidane, na época em que

estava no Los Angeles (Foto: Divulgação)


Aos 29 anos, o volante não se empolga tanto quando questionado sobre uma possível chance de atuar no futebol brasileiro antes de encerrar sua carreira. Sem nunca ter jogado em seu país natal como profissional, o jogador revelou que teve algumas sondagens ultimamente, mas que sua idade talvez atrapalhe um pouco uma vinda para o futebol tupiniquim.


- Tempo ainda dá, mas é muito difícil. No Brasil, você sabe qual é a mentalidade. Por aí, com 30 anos o cara já é velho, enquanto por aqui alguns ainda estão começando a carreira. Já tive algumas sondagens, mas ninguém sabe o que vai acontecer - disse.


*Sob a supervisão de Marcos Felipe


Paulo Nagamura brasileiro do Kansas City (Foto: Divulgação)Paulo posa com a taça da US Open Cup (Foto: Divulgação)