Concentração é a maior inimiga dos jogadores de futebol. Temida, chata, tira os craques do conforto do lar, da companhia da família, para ficarem num lugar estranho. A não ser quando, numa exceção absoluta, o atleta pode passar esse período dentro de casa. É praticamente o que vai acontecer com o meia-atacante Lucas , já que a seleção brasileira está concentrada, desde a noite de segunda-feira, no CT de Cotia, de propriedade do São Paulo, onde o garoto morou durante quatro anos.
Lucas terá a missão de apresentar a concentração do São Paulo a Neymar (Foto: Alexandre Lozetti)
Lucas chegou ao São Paulo aos 13 anos, em 2006, e ficou no local, junto aos demais garotos das categorias de base, até 2010, quando foi promovido ao time profissional. A ligação com o CT é muito forte, tanto que, ao contrário dos outros jovens que sobem à equipe principal, ele ainda acompanha de perto os mais novos. Já foi a Cotia assistir aos jogos e costuma ver pela televisão, quando possível.
Amigo dos funcionários e atletas do centro de treinamento, Lucas tem certeza absoluta de que os convocados vão adorar o lugar. Especialmente um, seu grande amigo Neymar . O santista nunca esteve em Cotia, mas já tem um guia assegurado para garantir seu divertimento até o jogo contra a África do Sul, marcado para sexta-feira, no Morumbi.
- Tem a lan house, os lagos para pescar... É proibido, mas a gente pesca escondido. Aquilo parece uma cidade, dava até para brincar de esconde-esconde. O Neymar vai adorar! Ele é moleque, como eu, vou ensinar umas traquinagens para ele. A gente vai bagunçar um pouco por lá - brinca o meia-atacante.
Quando saiu de Cotia, Lucas era uma promessa, sem a menor garantia de êxito. No início de 2012, o São Paulo fez pré-temporada lá, e ele já era uma realidade. Agora, volta à concentração como jogador da seleção brasileira, além do status de mais caro do futebol nacional em todos os tempos após ser vendido por 43 milhões de euros (R$ 108 milhões) ao PSG.
Momento excelente para voltar a receber uma oportunidade no time titular de Mano Menezes. Depois de ter sido pouco utilizado nos Jogos Olímpicos, quando o Brasil ficou com a medalha de prata ao ser derrotado pelo México na final, o atleta ouviu do técnico que deverá ter mais tempo nas próximas partidas para provar que pode começar jogando também na Seleção. Apesar de ser presença frequente nas listas de Mano, com 12 convocações, Lucas perdeu espaço no último ano.
Lucas e Neymar voltam a se encontrar na Seleção para amistosos no Brasil (Foto: Rafael Ribeiro / CBF)
O local também é propício. Se Cotia é a casa de Lucas, o Morumbi é seu parque de diversões. Ao longo dos quatro anos de categorias de base, ele pegava o ônibus do clube para ir ao estádio assistir às partidas do São Paulo. Como jogador, sua estreia ocorreu em 2010, nos últimos minutos do empate por 2 a 2 contra o Cruzeiro. No próximo duelo em casa, contra o Vasco, já era titular, para nunca mais perder seu lugar.
Como torcedor, Lucas nunca viu a seleção brasileira jogar em São Paulo na arquibancada.
- Meus pais tinham medo de ir aos estádios, não me deixavam ir sozinho e estavam sempre trabalhando. Eu gostava mesmo era de jogar bola na rua e assistir à Seleção pela televisão. Acompanhava todos os jogos, sabia de tudo, mas nunca vi de perto.
Agora, o atleta mais caro do futebol brasileiro vai ver bem de perto. Mais de perto, impossível. E espera que Cotia e o Morumbi possam ser o ponto de partida para alcançar seus maiores objetivos na carreira.
- Eu sonho alto. Quero um dia ganhar uma Copa e ser eleito o melhor jogador do mundo.
