terça-feira, 27 de novembro de 2012

Lembra Dele? Fã de F-1, Jamelli faz 'bico' em Interlagos no 'S do Senna'


Paulo Jamelli ainda era um adolescente quando passou a madrugada na fila em frente à bilheteria de Interlagos. Não queria correr o risco de ficar sem ingressos para o GP do Brasil, alguns dias depois. Fanático por automobilismo e fã de Ayrton Senna, ia com um primo ao autódromo todos os anos até que a rotina do futebol o afastou das corridas. Formado na base do São Paulo no início da década de 1990, se inspirou na Fórmula 1 para se tornar conhecido pela velocidade dentro de campo. Como meia-atacante, brilhou no Tricolor e no Santos e chegou a vestir a camisa da Seleção em sua melhor fase. Aposentado desde 2007, enfim conseguiu voltar a frequentar o circuito paulista. Mas nada de arquibancadas. No último domingo, Jamelli passou toda a corrida ao lado da curva do “S do Senna”, à espera de um carro que saísse da pista para entrar em ação.


Desde o ano passado, Jamelli é um dos socorristas do GP do Brasil. Quando há algum acidente ou se um piloto perde o controle, o grupo é responsável por retirar o veículo da pista e qualquer peça que tenha ficado pelo caminho. Em um trabalho completamente setorizado, o ex-jogador tem a função específica de encaixar a fita elástica no carro e no guincho. Nas duas corridas que participou, entrou em ação duas vezes: com Romain Grosjean, em 2011, e com Pastor Maldonado, no último domingo.


Jamelli socorrista GP do Brasil (Foto: Piervi Fonseca/GP Brasil de F1)Jamelli durante o GP do Brasil: socorrista nas horas vagas (Piervi Fonseca/GP Brasil de F1)


Jamelli foi parar na função de repente. O tal primo que o acompanhava nas corridas virou funcionário na organização do GP do Brasil. É ele o responsável por gerenciar a distribuição do combustível para as equipes. Por saber que o ex-jogador é fã de automobilismo, o indicou para a função. Depois de passar por uma prova e alguns testes, foi chamado para ser voluntário. Desde setembro, participou de simulações de acidentes, incêndios e treinamentos. E, ainda que não consiga ver quase nada que acontece na pista, se diverte na função.


Jamelli socorrista GP do Brasil (Foto: Arquivo Pessoal)Jamelli teve pouco tempo para circular pelo

autódromo (Foto: Arquivo Pessoal)


- No domingo, foram vários acidentes, carros rebocados, o safety car entrou na pista duas vezes. Quando Maldonado saiu da pista, guinchamos o carro e o levamos para o atendimento. Tudo debaixo de chuva. Fizemos isso em uma volta e meia, o que é muito rápido, a corrida tem prejuízo se parar. Deu certo. É muito legal, você fica orgulhoso por estar ajudando a fazer um grande evento em São Paulo. Apesar de os carros passarem a cinco metros, você nunca sabe quem está em primeiro, como está a corrida – disse Jamelli, que só foi saber que Sebastian Vettel havia sido campeão pelo rádio de comunicação.


O ex-jogador é um dos mais novos da equipe. A maior parte está ali há anos. Mesmo assim, ele já se acostumou às dificuldades da função. Tudo muito diferente da vida que levava nos gramados.


- Não é uma coisa do tipo “vai lá e se vira”. É bem treinada. Primeiro, porque tem o risco de morte. Tem a nossa segurança, a dos pilotos. Mas a gente se diverte, aproveitamos muito. Estava ali, trabalhando no Grande Prêmio do Brasil. Cheguei em casa cheio de bolhas nas mãos, apesar das luvas. Estava fazendo um trabalho braçal mesmo. Guinchar, pegar peças na pista. Eu, que sou apaixonado por Fórmula 1, aprendo um outro lado que, pela TV, não via. No domingo, dei uma volta em cima do caminhão para levar o Madonado. Poucas pessoas têm essa oportunidade.


Jamelli São Paulo (Foto: Divulgação / Site Oficial do Jamelli)Jamelli começou a carreira no São Paulo (Foto: Divulgação / Site Oficial do Jamelli)


Apesar de trabalhar no autódromo, Jamelli nem chegou perto da parte sofisticada do GP do Brasil. Nada de circular pelo paddock e conhecer pilotos e outras celebridades. Viu, pelo telão, que Ronaldo, Lucas e Raí passaram por lá. E foi só. Seu trabalho ali era outro.


- A minha credencial era de peão, operário mesmo. Não tinha acesso a nada. No sábado, ainda liberaram a gente para ir aos boxes, tirar duas, três fotos. Só cheguei perto mesmo do Maldonado. Foi até uma confusão na hora, ele estranhou que eu falasse espanhol (Jamelli jogou no Zaragoza e no Almería, da Espanha). Mas fiquei fora do mundo de celebridades – brincou.


Jamelli, Seleção Brasileira 1996 (Foto: Getty Images)Jamelli chegou a jogar pela Seleção à

época do Santos (Foto: Getty Images)


Quando ainda jogava, Jamelli também passou por Corinthians, Atlético-MG, Kashiwa Reysol e Shimizu Pulse, do Japão, e Barueri, onde encerrou a carreira em 2007 devido a uma grave lesão no joelho. Lá mesmo iniciou seu trabalho como gerente de futebol. Exerceu a mesma função no Santos e no Coritiba, antes de se arriscar como técnico, no Marcílio Dias, de Santa Catarina. Demitido no início do ano, está à procura de um novo clube. Mas, se nada aparecer, deverá voltar a Interlagos no GP do Brasil de 2013.


- Se eu não estiver trabalhando como técnico ou gerente, eu me comprometo.


Enquanto isso, Jamelli tem comandado sua agência de marketing esportivo, com projetos ligados ao programa de sócio-torcedor e até mesmo ao Novo Basquete Brasil (NBB), campeonato nacional de basquete. Sem perder o contato com o futebol, diz ter aproveitado o tempo para assistir aos jogos e observar jogadores. Mas ainda espera por uma nova chance como treinador.


- Recebi propostas para trabalhar como gerente, mas não era o que eu queria. Quero ser treinador, a não ser por alguma exceção, algum projeto forte de um clube que queira contar comigo. Estou investindo muito no jogo. Tenho viajado bastante por Espanha, Itália, até mesmo Peru. Tenho observado muitos jogadores para quando eu estiver treinando.


Paulo Jamelli, técnico do Marcílio Dias (Foto: Divulgação)Jamelli no Marcílio Dias: ex-jogador espera voltar a atuar como técnico (Foto: Divulgação)