Pita e Zé Sergio sabem o peso que é defender Santos e São Paulo, rivais que se enfrentam neste domingo, às 16h (de Brasília), pela 23ª rodada do Campeonato Brasileiro. Mais do que isso, têm noção do que é ir de um rival diretamente para o outro - cenário que pode ser repetido por Paulo Henrique Ganso , em litígio com o Peixe e que interessa ao Tricolor.
Emm 1984, Pita e Zé Sérgio trocaram de lado. Pita, "maestro" da geração de Meninos da Vila campeã paulista em 1978, foi para o Morumbi. Zé Sérgio, habilidoso ponta-esquerda do São Paulo campeão brasileiro de 1977 e bi-estadual em 1980 e 1981, desceu a Serra do Mar e foi para a Vila Belmiro, acompanhado do volante Humberto, outro ex-Tricolor.
Zé Sergio e Pita analisam a 'novela' Ganso (Foto: Editoria de Arte / Globoesporte.com)
- Estava em Curaçao (Antilhas Holandesas) pelo Santos e recebi a ligação sobre o interesse do São Paulo. Meu contrato estava para terminar e a renovação não caminhava. Então, o São Paulo fez uma proposta três vezes maior (que a do Santos), muito boa tanto para mim como para o próprio Santos, já que iriam dois jogadores (Zé Sérgio e Humberto) e mais uma quantia em dinheiro - recorda Pita.
- Era uma fase posterior às contusões que tive e o Santos queria montar um time forte e maduro, capaz de disputar títulos a curto prazo, ser campeão de imediato. Então, veio o interesse do São Paulo no Pita, e acabou ocorrendo essa troca - acrescenta Zé Sérgio.
Apesar de algumas semelhanças com a novela Ganso (como o interesse pela negociação ter partido do São Paulo), Pita e Zé Sérgio concordam que a repercussão da troca, à época, não foi a mesma que vem sendo dada à possível saída do camisa 10 do Peixe para o Tricolor.
- Não vazavam tantas informações como agora. Quando se falou (da negociação), já era a confirmação da venda. Havia comentários sobre a dificuldade na renovação, mas só isso. A torcida (do Santos) se manifestou, mas não houve tanta coisa. Acabou que tudo terminou bem para os dois lados, até porque o Santos foi campeão paulista naquele ano - lembra Pita.
- Minha melhor fase (no São Paulo) foi de 1977 a 1981. Aí, acabei me contundido, tive problemas no joelho e no braço, e já não estava como antes. Como a negociação envolvia a vinda de um jogador (Pita) que estava bem, não teve uma manifestação (pela ida ao Santos). Mas sei que se estivesse na fase boa, não haveria nem conversa. O São Paulo não iria liberar - adianta Zé Sérgio.
Só o Ganso pode acaba com essa novela"
Pita
Ambos concordam que a confusão em que se transformou a negociação entre a dupla San-São por Ganso prejudica muto a carreira do atual camisa 10 santista. Para Pita, somente o próprio jogador é quem vai dar fim à novela.
- Essa situação é ruim para o jogador. Quando saí para o São Paulo, era a hora certa, pois já tinha dado meu máximo pelo Santos. O nome do Ganso já está marcado na história do Santos, como o grande camisa 10 que é. Se ele está desmotivado e quer sair, ou prefere ficar para se recuperar, é algo que só ele pode decidir.
Zé Sérgio, por sua vez, vê o interesse tricolor por Ganso com cautela, e cita a si próprio como exemplo, já que veio do São Paulo para o Santos cercado por dúvidas sobre o quanto poderia render na nova casa, devido às lesões sofridas no começo dos anos 80 – Ganso já operou os dois joelhos duas vezes.
- Seria uma contratação de risco. Não do ponto de vista técnico, porque em condições boas, o Ganso jamais perderia a posição na Seleção para o Oscar. Mas lembro que, no Santos, não consegui jogar nem 50% do que fiz no São Paulo. Na época, houve uma troca de jogadores. Agora, haverá um investimento grande. Será que terá retorno? Questiono por experiência própria - reconhece.
Clássico
Para o clássico de domingo, Pita e Zé Sérgio têm opiniões distintas. Para o ex-meia, os desfalques santistas podem fazer a diferença a favor do São Paulo, mesmo com a partida na Vila Belmiro. Já o ex-ponta-esquerda pondera a instabilidade dos dois times e crava um empate na Baixada.
- São dois times que oscilam bastante. Se o Santos estivesse completo, talvez tivesse mais favoritismo. Sem Neymar e Ganso, fica um time mais comum. Mesmo sem o Lucas, o São Paulo vem mais completo, então creio que tem alguma vantagem - analisa Pita, bicampeão paulista (1985 e 1986) e campeão brasileiro (1986) pelo Tricolor.
- Se você olhar a tabela, o São Paulo é favorito. Mas é complicado, porque é um time que não mostra segurança. Por sua vez, o Santos também vem instável. Então, fica difícil fazer um prognóstico, ainda mais porque Neymar e Lucas não estarão em campo. Assim, aposto em um empate - prevê Zé Sérgio, campeão paulista pelo Alvinegro em 1984.
Importância
Mas qual o clube mais importante para cada um? Embora reconheça ser santista "desde a época de Pelé e Edu", Pita afirma que aprendeu a gostar do São Paulo após a experiência no Morumbi - onde chegou a trabalhar como técnico nas categorias de base. Não à toa, descarta até mesmo torcer para um ou outro no clássico deste domingo.
- São duas equipes marcadas na minha vida. O Santos, além de ser o clube onde fiquei por onze anos, desde o juvenil, foi onde me tornei reconhecido como Pita. No São Paulo, já cheguei mais maduro e pude conquistar outros títulos. Mas sei que sou ídolo das duas torcidas. Então, não ficarei torcendo. Vou ficar satisfeito com quem ganhar - explica o ex-meia.
Já Zé Sérgio, apesar de mais identificado com Tricolor do que com o Santos - até por ter passado mais tempo no São Paulo do que no Peixe -, não esconde o carinho pelo Alvinegro.
- Nasci no São Paulo, vivi minha melhor fase lá e o clube foi muito importante na minha carreira. Mas o Santos também é especial. A cidade (de Santos) é ótima, e me senti muito à vontade lá - recorda.