domingo, 23 de setembro de 2012

Uma história de jabuticabas: Pelé inaugura réplica de casa de infância


Diz dona Celeste, a mãe de Pelé, que seu filho nem esperou nascer para começar a jogar futebol. Ela sofria com chutes e movimentos que pareciam cabeceios dentro de sua barriga quando Edson era gestado, em idos de 1940. Ao dar à luz o menino, ela logo viu que a inquietação dele podia ser curada com uma bola. Tudo isso teve como cenário uma pequena casa em Três Corações, no Sul de Minas Gerais. Mas não foi de nada disso que aquele menino, hoje um setentão, lembrou ao visitar uma réplica da casa, inaugurada neste domingo, no mesmo canto onde começou a ser criado. Para ele, olhar aquele espaço, lembrar daqueles tempos, remete a jabuticabas.


pelé três corações (Foto: Alexandre Alliatti/Globoesporte.com)Pelé saúda os fãs em Três Corações (Foto: Alexandre Alliatti/Globoesporte.com)


O primeiro lar do Rei foi destruído pelo tempo. E agora está de pé, novinho em folha. A moradia dos primeiros passos do maior jogador de futebol de todos os tempos foi apresentada ao mundo neste domingo. Pelé, observado por uma multidão, circulou por lá, recebeu as chaves da casa, entrou nela. Mas o que ele queria mesmo era ver as jabuticabeiras.


Elas seguem lá, intactas, no pátio da casa, perto de um galinheiro e de uma latrina. Pelé, enquanto caminhava, balbuciou: “As jabuticabas. As jabuticabas”. E lá foi abraçar as duas árvores. Explica-se: ele deixou a casa muito novo, com menos de quatro anos, rumo a Bauru. E tudo que lembra é de pegar jabuticabas nos galhos.


- Lembro que esperava meu pai ou o tio Jorge chegarem em casa. Eles encostavam a carroça, e aí eu podia subir nela para pegar as jabuticabas. Não lembro de bola aqui, mas lembro das jabuticabas – recorda Pelé.


Não restavam sequer fotografias da casa onde o tricampeão mundial com a Seleção passou os primeiros três anos de vida. Para que o espaço fosse reconstruído, Keller Veiga, cenógrafo da TV Globo, usou os depoimentos da mãe de Pelé e do tio Jorge. Assim, foi possível recriar, com o máximo de realismo, as características do lar.


As paredes, mesmo novas, estão desgastadas. É proposital - para dar a percepção dos tempos em que Pelé morou ali. O pátio também está exatamente igual. A mudança é a presença de uma placa com imagens da família Arantes do Nascimento.


A construção original era de 1910. A réplica levou menos de dois anos para ser construída. Custou cerca de R$ 200 mil. Detentos trabalharam na obra, como parte de programa de redução de pena. O espaço será aberto para visitação do público.


O retorno


O comentário unânime na cidade é de que Pelé não visitava Três Corações desde 1987. O retorno dele mobilizou a população local. Pela manhã, milhares foram ao Parque Dondinho (apelido do pai dele) recepcionar o ídolo. Lá, foi inaugurado um monumento em que ele, ainda criança, está abraçado a seu progenitor. Dezenas de parentes dele estiveram presentes.


Em discurso, Pelé homenageou a cidade. Disse que fala de Três Corações em todos os lugares onde vai no mundo. Mais tarde, em entrevista coletiva, foi questionado sobre sua ausência da cidade. Ele negou que tenha ficado tanto tempo sem aparecer nela. Disse que gravou um programa há dois ou três anos ali. E fez afagos aos conterrâneos.


- O que eu espero é nunca decepcionar vocês. Sou humano, mas espero nunca deixar vocês decepcionados.