terça-feira, 29 de outubro de 2013

Bom Senso FC questiona nota da CBF sobre mudanças no calendário


Um dia depois da reunião de representantes do Bom Senso FC com a CBF para discutir mudanças para o calendário do futebol brasileiro, o grupo que defende os interesses dos jogadores se manifestou sobre o resultado do encontro. Em nota, questionou alguns pontos expostos pela entidade, como a garantia de um mês de férias entre as temporadas de 2014 e 2015 e o cumprimento do limite de sete jogos por mês por parte dos clubes.


O Bom Senso também propôs o limite de 70 partidas por ano (a CBF falou em implantar um limite, mas não chegou a estabelecer um número) e se colocou à disposição para debater a possibilidade de paralisação dos campeonatos em datas Fifa.


Juan, Seedorf, Alex e Fernando Prass reunião CBF (Foto: Thales Soares)Juan, Seedorf, Alex, Alessandro e Fernando Prass (de cima para baixo) na reunião CBF (Foto: Thales Soares)


Na reunião realizada na segunda-feira, a CBF garantiu mudanças no calendário do futebol brasileiro, especialmente o respeito aos 30 dias de férias e de pré-temporada, mas ficou acertado que as alterações só terão efeito em 2015, em razão da realização da Copa do Mundo no Brasil em 2014.


Confira a íntegra da nota emitida pelo Bom Senso FC:


Após reunião e posicionamento da CBF sobre o encontro desta segunda-feira, 28 de outubro, o Bom Senso FC se manifesta a respeito dos tópicos mencionados pela entidade em nota oficial. Enumeramos o ponto de vista do grupo sobre os temas e acrescentamos algumas questões:


a) Férias dos jogadores – a lei será respeitada em 2014. Os atletas terão direito aos 30 dias de férias obrigatórias (8 de dezembro de 2013 até 8 de janeiro de 2014). O reflexo será o prejuízo na preparação para o início das competições, além do risco à saúde dos atletas e queda na qualidade do espetáculo, em um ano desgastante. Ficou definido que os clubes da Série A envolvidos em campeonatos estaduais terão seu primeiro jogo oficial em 19 de janeiro. Ainda assim, existem federações, como dos estados do Paraná, Bahia, Goiás e Pernambuco, que não confirmaram a mudança de data. O Bom Senso FC aguarda um posicionamento da CBF e das respectivas instituições.


b) Pré-temporada – a pré-temporada de 2014 está comprometida já que, por enquanto, o Bom Senso FC obteve apenas a sinalização de que os clubes da Série A poderiam optar por usar equipes alternativas nas primeiras rodadas dos estaduais. O movimento entende os elencos profissionais dos clubes como homogêneos, onde todos os jogadores têm tratamento e condições de trabalho iguais, sem distinção entre titulares e reservas.


Em 2015, a preparação tem início previsto para 7 de janeiro, mas os clubes que disputarem a fase inicial da Libertadores atingirão apenas 21 dias de preparação. Com o início dos estaduais programado para 4 de fevereiro de 2015, essa preparação, que exposto pela CBF em nota teria 30 dias, seria de apenas 27.


c) Quantidade de partidas num período de 30 dias – a proposta do Bom Senso FC é que sejam disputadas o máximo de sete partidas em 30 dias. Significa que o clube que chegar à fase final de todas competições atingiria até 70 jogos no ano, considerando dez meses de jogos, já que dois meses estariam divididos entre férias e pré-temporada. Ao contrário do divulgado pela CBF, muitos clubes do Brasil têm feito mais de sete partidas por mês. De janeiro a maio de 2012, ano sem competições eventuais FIFA, Fluminense, Ponte Preta, Goiás, Corinthians, Coritiba e Vitória (citando alguns dos clubes presentes no encontro de segunda-feira) fizeram de 8 a 10 jogos a cada 30 dias, no período de janeiro a maio. Isso representa um dado diferente do que foi citado na nota da entidade e o movimento reitera a necessidade de mudança urgente para a temporada de 2015.


d) Limitação da quantidade anual de partidas – não ficou definido pela CBF o número máximo de partidas por ano e se ele se aplicaria a clubes ou jogadores. As últimas temporadas foram extremamente desgastantes para as equipes brasileiras. Por exemplo, de janeiro a maio de 2012, o número de partidas anuais dos mesmos clubes acima citados variou de 65 a 76 jogos. O número é exacerbado tendo por base o que acontece no futebol mundial. Como exemplo, o Chelsea alcançou o maior número de partidas da história de um time inglês na temporada passada, totalizando 69 jogos. O Bom Senso FC propõe 70 partidas anuais, número ainda superior ao recorde do Chelsea, sendo que a média dos principais clubes europeus nas cinco últimas temporadas é de 56 partidas/ano.


e) Fair play financeiro – o Bom Senso FC foi convidado pelo presidente do Coritiba Vilson Ribeiro de Andrade para ser parte efetiva da discussão do tema.


f) Preocupação com clubes menores – esta é uma grande preocupação do Bom Senso FC e percebemos que o tema não foi devidamente abordado e nem valorizado na reunião. Ocorreram pequenos avanços nas questões envolvendo a elite do futebol brasileiro, mas não houve nenhum posicionamento claro sobre projeto para melhorar e fomentar o esporte nos quatro cantos do país. O Brasil conta com quase 700 clubes profissionais e 541 deles não possuem atividade durante todo o ano. Esse debate precisa ser aprofundado. O grupo faz questão de lembrar que mais de 85% dos atletas no país não ganham mais que três salários mínimos. Sem calendário durante toda temporada, a situação tende a piorar.


g) Datas FIFA – o Bom Senso FC propôs debate sobre o prejuízo técnico para os clubes em datas FIFA, já que o Brasil é o único país das grandes ligas que não interrompe as rodadas quando existem jogos de seleções. Se os clubes entendem que não há esse problema na disputa das competições, o movimento aceita a posição. Porém, fica evidente a perda que todos sofrem, na medida que não contam com jogadores selecionáveis em partidas importantes. O levantamento do Bom Senso FC aponta que cerca de 20 atletas no futebol brasileiro estão frequentemente sendo chamados para representar seu país em datas FIFA (conferir lista abaixo). Todos os jogadores têm o desejo de defender a seleção, porém já observamos que várias vezes o profissional responsável pelo comando técnico do Brasil demonstra o cuidado em não prejudicar os clubes que disputam as competições locais e podem perder seus atletas em momentos decisivos dos campeonatos. Isso faz com que os profissionais que atuam na nosso país sofram com menos oportunidades de estarem no grupo selecionado.


Lista atletas selecionáveis: Lodeiro (Botafogo/Uruguai); Diego Forlán (Internacional/Uruguai); Valdívia (Palmeiras/Chile); Vargas (Grêmio/Chile); González (Flamengo/Chile); Mena (Santos/Chile); Guerrero (Corinthians/Peru); Ramirez (Ponte Preta/Peru); Luis Advíncula (Ponte Preta/Peru); Yotún (Vasco/Peru); Marcelo Moreno (Flamengo/Bolívia); Fred (Fluminense/Brasil); Victor (Atlético-MG/Brasil); Jéferson (Botafogo/Brasil); Diego Cavalieri (Fluminense/Brasil); Réver (Atlético-MG/Brasil); Dedé (Cruzeiro/Brasil), Jean (Fluminense/Brasil); Henrique (Palmeiras/Brasil); Pato (Corinthians/Brasil).


No aguardo de soluções para os temas em debate, os atletas continuam preocupados com os rumos do futebol brasileiro.