terça-feira, 1 de outubro de 2013

Ex-zagueiro tira diploma de técnico na Itália e critica formação no Brasil


Antônio Carlos Zago forma técnico na Itália (Foto: Divulgação / Arquivo Pessoal)Antônio Carlos Zago concluiu curso de técnico

na Itália (Foto: Divulgação / Arquivo Pessoal)


O mercado brasileiro de treinadores deverá ganhar um reforço em breve. Antônio Carlos Zago, zagueiro de sucesso nos quatro grandes clubes de São Paulo, recebeu diploma de técnico no último dia 25, na Itália. Foram seis semanas no concorrido curso da federação do país, chancelado pela Uefa. Entre teoria e prática, ele estudou de esquemas táticos até psicologia e medicina esportiva. Teve um breve contato com Pep Guardiola no Bayern de Munique e concluiu o curso certo de que o Brasil precisa ser mais exigente com a formação dos profissionais.


Zago tinha intenção de fazer o curso desde que parou de jogar. Mesmo assim, teve passagens como treinador, a mais importante delas no Palmeiras, onde resistiu apenas 19 partidas, em 2010. Agora "bacharel", ele está certo de que pode fazer uma carreira bem mais sólida.


- Se eu tivesse feito há cinco anos, seguramente teria uma experiência bem maior. Foi um aprendizado muito grande. Eu não imaginava que seria tão importante, e poderia enriquecer tanto o que eu já sabia - disse o ex-zagueiro.


As aulas duravam oito horas por dia, de segunda a sexta-feira. Antonio Carlos avalia que de 60% a 70% do curso era teórico. As cinco disciplinas foram técnica de futebol, metodologia de treinamento, psicologia, comunicação e medicina esportiva. O ex-zagueiro teve aulas com técnicos como Luciano Spaletti, do Zenit, e os alunos também visitaram alguns clubes.


Antônio Carlos Zago forma técnico na Itália (Foto: Divulgação / Arquivo Pessoal)Material de estudo de Antônio Carlos no curso tinha

até psicologia (Foto: Divulgação / Arquivo Pessoal)


Um deles foi o Bayern de Munique. Zago chegou a ter uma breve conversa com Guardiola. Segundo ele, o espanhol estava muito atarefado por conta da pré-temporada e do início de trabalho no campeão europeu. Também houve uma semana de aula de inglês. Tempo insuficiente para se aprender até mesmo o básico, mas a intenção era despertar nos futuros treinadores o desejo de se aperfeiçoarem no idioma.


- Hoje é muito importante, e na Itália cada vez mais dão valor a isso - disse.


A experiência no curso também fez com que Antônio Carlos reforçasse as críticas à falta de formação dos técnicos no Brasil. Enquanto na maioria dos países é necessária uma licença obtida depois de um determinado período de especialização, o país pentacampeão não exige nada de quem deseja comandar um time de futebol.


Zago acredita que esse seja um dos motivos pelos quais a parte tática recebe menos ênfase no Brasil, em relação a outros países. Uma das consequências disso é que há muito mais técnicos argentinos trabalhando na Europa, como Gerardo Martino, que assumiu o Barcelona, do que brasileiros em clubes de primeira linha.


- A parte tática é pouco trabalhada no Brasil pelos treinadores. Estamos atrás até mesmo dos argentinos. No Brasil, você pode pegar qualquer um na rua e colocar como treinador, que não há problema. Acho que seria importante termos um curso como esse da Itália, e como existem outros na Europa também.



No Brasil, você pode pegar qualquer um na rua e colocar como treinador, que não há problema. Seria importante ter um curso de especialização"


Antônio Carlos Zago



A categoria de ex-jogadores, à qual Antônio Carlos também pertence, foi citada como um dos problemas. Em sua visão, o atleta acredita que já esteja preparado para se tornar técnico assim que pendura as chuteiras. O próprio Zago fez isso. Mas agora tem certeza de que a experiência dentro de campo não é suficiente para se sentar no banco.


- A maioria pensa que já pode começar imediatamente a carreira de treinador, mas não é assim. Só ter uma carreira como jogador de futebol, teórico ou estudante, não adianta. É preciso ter um curso que te especialize.


Como a temporada brasileira está em sua reta final, o ex-atleta sabe que agora será difícil conseguir um bom emprego. Os times que trocam de treinadores, normalmente, são os que estão ameaçados de rebaixamento. Antônio Carlos não descarta assumir um clube nessa condição, mas não esconde que o ideal é iniciar um trabalho em janeiro, para poder imprimir na equipe seu estilo e os métodos que aprendeu no curso.


Enquanto isso, ele decidiu esticar a estadia na Europa. Tudo por conta do convite do romeno Mircea Lucescu, que comanda o Shakhtar Donetsk há mais de nove anos. Zago foi seu jogador no Besiktas, da Turquia, e o considera um dos três melhores técnicos de sua carreira. Ele já havia assistido ao jogo contra o Real Sociedad, pela Liga dos Campeões, e agora passará mais alguns dias ao lado de Lucescu. Mais um estágio para voltar com um diferencial no mercado brasileiro.


- Nós aprendemos aqui a nos adaptarmos ao que o clube oferece, não podemos ser dependentes de um esquema tático. Seria importante colocar em prática tudo que aprendi.


Antônio Carlos Zago forma técnico na Itália (Foto: Divulgação / Arquivo Pessoal)Zago também observou trabalho do amigo Mircea Lucescu, no Shakhtar (Foto: Arquivo Pessoal)