Marcio Porto - 12/10/2012 - 07:00 Santos (SP)
Às Segundas, quartas e sextas, futebol. Às terças e quintas, judô. Essa era a rotina do garoto Eduardo Luiz Abonízio de Souza, o Edu, na pequena cidade de Dracena, interior de São Paulo.
O tempo passou, o destino quis que o futebol o alçasse a condição de ídolo do Santos e de outros clubes, com grandes conquistas, mas Edu Dracena poderia muito bem ter seu nome na história dos tatames.
– Fui judoca até os 13 anos. Fazia futebol, mas meu pai dizia que precisávamos queimar o resto da energia que sobrava com outras coisas. Então, nas terças e quintas era o judô e eu ia muito bem, obrigado (risos) – lembrou Edu Dracena, em entrevista ao LANCENET!, dentro do CEPRAF do Santos, onde atualmente se recupera de lesão no joelho esquerdo.
O zagueiro garante que já era vencedor nos tempos de luta. Lembra que volta e meia chegava às finais, mas sempre tinha um garoto que insistia em atrapalhar os planos. Era ninguém menos do que o campeão mundial e vice-campeão olímpico Tiago Camilo, um dos maiores judocas brasileiro de todos os tempos.
– Lutei com o Tiago. Nós dois sempre chegávamos à final. Às vezes eu ganhava, às vezes perdia. Era pau a pau – contou Edu Dracena.
Edu Dracena, à esquerda, como judoca quando era criança (Foto: Arquivo pessoal)
Os encontros se davam nas competições estaduais, já que a cidade de Dracena fica a cerca de 115 quilômetros de distância de Tupã, a terra natal de Tiago Camilo. Duraram até Edu completar 13 anos e se transferir para Campinas, onde deu os primeiros passos para o futebol no Guarani, clube pelo qual foi revelado. O judô perdia um lutador. E o futebol brasileiro ganhava um zagueiro.
– Fui até a faixa laranja, não é pouca coisa. Mas meu pai sempre mexeu com futebol, era treinador de várzea. Antes de começar os jogos, eu ficava chutando bola. A gente (ele e o irmão mais velho Renato) cresceu assim. Quebrando vidros em casa. Era o futebol mesmo – explica.
Sorte dos santistas. Pelo Peixe, Edu já conquistou Copa do Brasil, três Paulistas e a Libertadores. É ou não é um golpe de mestre?
A infância de Edu Dracena
Judô e futebol em Dracena
Edu Dracena nasceu em 18 de maio de 1981, sendo um ano mais velho do que Tiago Camilo, seu adversário no judô na infância. Ele dividia a luta coom o futebol por ordem do pai, que achava que ele e o irmão Renato precisavam se dedicar a outro esporte quando não estavam nas quatro linhas. Ele abandonou o judô com 13 anos, quando se transferiu para o Guarani.
‘Mais ou menos’ na escola
Durante o período em que morou em Dracena com a família, Edu diz que raramente faltava às aulas. Mas a assiduidade não lhe garantia boas notas: “Digamos que eu era mais ou menos. Se falasse joga bola ou estuda, claro que eu queria jogar bola. Mas nunca faltei, porque meus pais eram bem rigídos, só por doença mesmo. Tive de completar até o segundo grau, em Campinas”, conta.
Neymar? Que nada!
O zagueiro lembra que tinha estilo de vida bem diferente da molecada atual. Cabelo moicano? Roupas ousadas, com estilo agressivo? Nem pensar: “Naquela época não tinha muito essas coisas, era normal. Cabelo de lado, roupa normal, e também não tinha muita condição de comprar muitas coisas. Era uma vida tranquila mesmo, mas nunca faltou nada, graças a Deus”, relembra.
Draceninha e Davi Lucca no ataque?
Embora ainda não cogite a aposentadoria, Edu Dracena já prepara seu herdeiro nos gramados. O filho Lorenzo de um ano e nove meses é a aposta para dar continuidade ao sucesso da cidade no futebol.
O capitão santista já até projeta uma parceria ousada para o futuro. E que tal uma dupla de ataque com Davi Lucca, o filho de Neymar, que cuompletou um ano em agosto?
– Já falei para o Neymar para ter essa dupla. Como o Davi seria o estilo Neymar, o Lorenzo então vai ser mais de área. Vou ensiná-lo e, no estilo Romário, vai fazer gol pra caramba – diverte-se o zagueiro santista.
Curiosamente, Lorenzo veio ao mundo no dia primeiro de janeiro de 2011 (1/1/2012). Agora, com o dia das crianças, Dracena já sabe o que vai dar de presente para o filho, mas revela uma inusitada dificuldade para conseguir achar o presente.
– Bola já tem um monte. Espero ter a nova camisa da Nike (fornecedora do Santos), porque ainda não tem. Está difícil achar para criança, e isso porque sou patrocinado. Já falei para os caras que está complicado – corneta Dracena, aos risos.
Interesse em Alex não empolga o capitão
A possibilidade de contratar o meia Alex, que recentemente rescindiu contrato com o Fenerbahçe (TUR), realmente não emplacou no Santos. Depois de Muricy dizer que não tinha interesse no atleta, Edu Dracena também não se entusiasma em voltar a atuar com o ex-companheiro. Sucinto, limitou-se a analisá-lo no campo.
– Ah... (jogador pensa por alguns segundos) Não vou discutir, dentro de campo, a qualidade que ele tem. Ponto. Só! – disse Edu.
Edu Dracena e Alex foram companheiros por muito tempo em dois clubes diferentes. No Cruzeiro, entre 2003 e 2004, conquistaram Brasileiro, Copa do Brasil e Mineiro. Já no Fenerbahçe o encontro durou toda a passagem do zagueiro santista, de 2006 a 2009, com dois campeonatos turcos e duas Copas da Turquia.
Alex se deixou o Fenerbahçe após oito anos de clube. Saiu brigado com o presidente e o técnico e deve jogar no Brasil em 2013.
ENTREVISTA COMPLETA
Confira abaixo a entrevista completa de Edu Dracena ao LANCENET!, em que ele fala da recuperação da lesão no joelho esquerdo, da saudade da concentração, da saída de Ganso, do Imperador Adriano, da volta de Robinho e, claro, de Neymar.
Como está a recuperação?
Está muito boa, minha rotina é de segunda a sexta aqui. Trabalho dois períodos até sexta, no sábado faço de manhã. Venho todos os dias. Minha rotina é essa, academia, musculação, fortalecer bem a coxa. Daqui uns dias já devo estar no campo, correndo, trotando, coisas que ainda não posso. Segunda, quarta e sexta faço na piscina, exercícios que aqui (academia) ainda não posso e assim vamos levando.
Já está de saco cheio disso?
Muita gente fala: "Ah, faz dois meses e meio, passou rápido". Passou para quem não está aqui todos os dias (risos). Mas o mais importante é que stamos fazendo trabalho bem consciente, bem tranquilo, não estamos fazendo rápido, pelo contrário, para não ter problema com tudo.
O que mais incomoda?
Sempre é aqui dentro, estou acostumado a viajar, treinar, então bate um desânimo. Mas bom é que tem uns moleques aqui também (Alison, Bruno Peres, Alan Santos fazem trabalho de recuperação), um dá força para o outro e assim vamos levando.
Está com saudade de concentrar?
Quem diria, mas estou (risos). Quando você machuca você dá valor a pequenas coisas, que quando está jogando não dá. Queria estar concentrado agora, com os jogadores, à disposição do treinador, aquela ansiedade do jogo, coisas que a gente sente falta, mas a gente tenta recompensar de alguma forma.
Quem é seu companheiro de quarto?
Antes de machucar era o Fucile e depois ia revezando. Nos outros anos, em 2010, era o Zé Love, depois Diogo em 2011. O Zé Love era o mais chato (risos), mas era gente boa, escutava bastante. Não só eu como o pessoal, mas ele com certeza agradava todo mundo.
O Muricy disse recentemente que pretende acabar com a concentração. O que você pensa disso?
Eu também sou a favor do fim da concentração, e outra: a gente já tem uma responsabilidade e você dar mais ao jogador é legal também. Hoje tem de ser profissional, não tem espaço para o boleirão, que antigamente não concentrava, fugia da concentração. Nossa vida é essa, tem hora pra tudo: sair com sua família, sair pra jantar, no shoppping, mas também precisa cuidar, se alimentar.
Falando nestes cuidados. Vemos agora a situação do Adriano, que tem ameaçado abandonar o futebol com problemas. O que acha do caso dele? Já teve algum contato com ele?
Já tive contato com ele no início na carreira, fui campeão sub-20, mundial também joguei junto. A gente fica triste, pela pessoa bacana que ele é, quem conviveu sabe. Acho que tudo isso vai da família, infelizmente ele perdeu o pai, que era o alicerce da família dele, e quando você perde uma pessoa desse jeito, acaba se perdendo. Ele só faz mal pra ele mesmo com o que está fazendo. Mas estou na torcida, porque além do profisisonal precisamos pensar no humano dele. De repente, ele parar, pensar, e ver o que quer da vida.
E a garotada nova, que está subindo agora, o que pode dizer para eles?
É um pouco diferente da minha época. Hoje tem empresário, que fala muita coisa, que tem proposta daquele, desse, então hoje no futebol não está fácil de trabalhar. Você tem de lidar com o interesse de muitas pessoas, então de repente um jogador da base um jogo que vai bem, já começa a especular time. Aí sobe na cabeça do jogador, achar que já é um craque, e não é.
Você gosta de dar conselhos? Como eles reagem?
Tem jogadores e jogadores. Tem uns que escutam o que você fala, dá opinião, e tem uns que acha ruim por você estar cobrando. A gente procura orientar, mas cabe ao jogador ver o que é bom ou ruim pra ele.
É uma geração mimada?
(Pensativo)... Olha, A palavra mimada é forte, mas é uma geração... Não vou generalizar, mas acho que tem jogadores que escutam muito as pessoas de fora, ao invés de escutar os que estão aqui no dia a dia, os jogadores experientes.
Mudando de assunto, como viu a saída do Ganso?
Acho que nenhum jogador espera sair da forma que ele saiu, então eu acredito que ele não gostou. Infelizmente aconteceu, a gente não queria que fosse, até pelo histórico dele, da base, profissional, os títulos. Foi ruim no para as duas partes, mas acho que é vida que segue. Agora é torcer para ele se recuperar, fortalecer bastante o joelho, para não ter problema no futuro. Queríamos que ele permanecesse, mas ele escolheu o caminho dele, e cada um sabe o que é melhor pra si. Temos de ter a amizade e o respeito e torcer para que ele se recupere rápido.
Mas só não pode ir bem contra o Santos, né?
(Risos). Contra o Santos ele já sabe, já enfrentamos algumas vezes o São Paulo nesses três anos, ganhamos a maioria dos jogos. A gente teve a sorte e competência de vencer o São Paulo nessas finais.
Além dele, outros jogadores, como Elano, Borges, Kardec também saíram. A base está se desmontando? Como vê isso?
Eu vejo que o futebol é assim, a cada ano que passa, uns vão, outros ficam, e a vida que segue. O que a gente tem de ter é um planejamento, jogadores à altura para poder estar renovando. Cinco ou seis saíram, fora os lesionados, é quase meio time. Imagina perder meio time, no Brasileiro, fora o Neymar na Seleção. Acho que por isso o Santos não conseguiu se manter entre os primeiros colocados e até a Libertadores, e os outros anos, Copa do Brasil, ano passado Libertadores também, isso tudo atrapalha.
Houve falha no planejamento?
Complicado falar, muito complicado. O mercado está complicado, a diretoria teve dificuldade, mas espero que 2013 seja diferente.
Muricy já disse que está esperando por grandes jogadores. Vocês jogadores também estão, comentam disso?
Entre os jogadores é difícil ficar comentando, até porque os jogadores que estão aqui tem condições também. Contratar é necessário, são jogos em cima de jogos, Seleção, lesões, tem de ter. Mas a diretoria está atenta, com o Muricy para contratar as peças que eles acham.
O Robinho é um desses? Seria bem-vindo?
Robinho é da casa, com certeza, não só ele como outro que vier vamos receber de braços abertos. Nos três anos que estamos aqui o mais importante que conquistamos foi a amizade e respeito, no grupo às vezes tem briga, discussões e aqui você não vê isso. E o Robinho nem parece que ele saiu, ele é santista roxo, já falou e tomara que ele possa vir... Vale todo o esforço da diretoria, ele é a cara do Santos, se vier vai ser excelente.
Dá para o Santos manter a média de dois títulos por ano?
Acho que dá para o Santos manter sim, pelo trabalho que vem fazendo, pode estar brigando sempre pelo título. Tem time de qualidade, tem hoje no elenco o melhor do Brasil, um dos melhores do mundo. Com certeza ano que vem virão peças para reforçar. Acredito muito que possa ganhar mais títulos. Não vou falar dois, mas toda competição vai entrar forte.
O que fazer para não deixar esse ritmo de topo cair?
É o que a gente fala: é dificil chegar, mas é mais difíciil se manter. Mas acredito que com os profissionais que temos aqui, comissão, faz com que o Santos tenha um grupo de trabalho, não só campo, muito bom pra estar disputando tudo.
Mas em 2014 o Neymar pode ir embora. Existe vida sem ele?
Com certeza, hoje não tem isso. claro que vai fazer muita falta, indiscutível, é referencia para todo mundo e tomara que demore muito tempo, porque queremos que ele permaneça. Mas é difícil falar do futuro, mas tomara que permaneça.