terça-feira, 2 de julho de 2013

Lembra Dele? Herói em 1978, Amaral brinca: 'Dei carrinho com o David Luiz'


Reveja o 40º minuto da final da Copa das Confederações entre Brasil e Espanha no Maracanã. Aquele em que Pedro recebe livre pelo lado direito, chuta por baixo de Julio César e só não marca o gol por causa de David Luiz . Calma, segure a empolgação por alguns instantes. Abra o vídeo ao lado, também de um duelo entre brasileiros e espanhóis, só que pela Copa do Mundo de 1978, e confira o que um outro zagueiro - também com a camisa 4 às costas - faz. Agora, diga: será mesmo que David Luiz estava sozinho ao evitar o empate neste domingo?


- Eu dei o carrinho com ele, com certeza - brinca o ex-zagueiro Amaral, aos 58 anos, marcado pela jogada no Mundial da Argentina.


Apesar dos recursos diferentes para evitar o gol, a semelhança dos lances impressiona. Uma diferença é que Amaral precisou salvar duas vezes: primeiro, em chute de Juanito, após trapalhada de Leão e Oscar; depois, no rebote emendado por Cardeñosa. Se a bola de David Luiz (veja no vídeo ao lado) manteve a vitória brasileira e abriu caminho para que a vitória fosse real, o milagre em 1978 foi importante para que o Brasil mantivesse o empate por 0 a 0, importante para avançar à fase final daquela Copa - a Seleção de Claudio Coutinho acabaria na terceira posição, atrás apenas de Argentina e Holanda. Hoje, 35 anos depois de frustrar a Espanha, o ex-jogador festeja o lance do sucessor como se fosse seu.


- Foi muito parecido, cara, e também num jogo importante. Estava vendo o jogo e na hora passou um filme na minha cabeça. Que coisa legal! E logo ele, que vinha sendo um dos melhores jogadores do Brasil, com uma regularidade muito boa. Ali foi a mudança do jogo, porque o empate da Espanha seria crucial. Foi a jogada do título, assim como a minha foi a da classificação.


Montagem Amaral David Luiz, Brasil x Espanha (Foto: Agência O Globo e Reuters)Antes e depois: os lances em 1978 e 2013, sempre contra a Espanha (Foto: Agência O Globo e Reuters)


Os louros de 1978 não saem da cabeça de Amaral. Ele ainda lembra os incontáveis abraços que recebeu nos vestiários do estádio de Mar del Plata, os 350 telegramas que lhe foram endereçados após a jogada e tudo que aconteceu na sua vida após isso.


- Comigo foi uma coisa de louco. Recebi 350 telegramas e não pararam de me abraçar no vestiário. Imagino como é que o David estava se sentindo no domingo. Imagina o quanto recebeu de e-mail? Ele com certeza se sentiu especial. E não só por aquela jogada. Ele foi bem durante os 90 minutos, se agigantou. Ali, desanimou um pouco a Espanha. A partir do momento em que a bola não entrou, você vê que a equipe deles criou um semblante negativo.



Recebi 350 telegramas e não pararam de me abraçar no vestiário. Imagina quanto de e-mail o David Luiz não recebeu por lá"


Amaral



O Mundial - e, claro, a jogada contra a Espanha - trouxe boas energias a Amaral, que voltou ao Brasil como "santo". Negociado pelo Guarani com o Corinthians, formou uma defesa segura ao lado de Jairo, Zé Maria, Mauro e Wladimir, que garantiu o título paulista de 1979. Ficou três anos no Parque São Jorge e transferiu-se para o Santos, mas sem tanto brilho. Defendeu ainda América (onde foi campeão mexicano) e Estudiantes Tecos e encerrou a carreira no Blumenau, em 1987. Nunca recebeu um cartão vermelho como profissional.


O ex-zagueiro continua no futebol mesmo anos depois. Amaral é o vice-presidente do União Mogi, equipe que disputa a Segunda Divisão do Campeonato Paulista (apesar do nome, equivale à quarta divisão). Ao lado dos ex-santistas Edu (diretor) e Nelsinho (coordenador técnico), está invicto no torneio e sonha com o acesso.


Esse não é o único sonho de Amaral. Se na sua época não teve a chance de disputar uma Copa do Mundo em casa, o ex-zagueiro espera que o Brasil de Luiz Felipe Scolari siga em evolução após o título da Copa das Confederações. Mas torce para que o hexa seja marcado por outras jogadas, e não por mais uma intervenção salvadora em cima da linha.


- O Brasil tem uma nova filosofia, não fica só no lado técnico. Mostrou que sabe marcar também. Mostramos um Brasil diferente para os adversários, mas não pode ser de um jogo só, tem de ter mais regularidade. Dentro do que se viu na final, se der continuidade, pode ter certeza que a gente leva em 2014. Mas poderia ser mais tranquilo, não é? (risos).


Seleção Brasil Copa do Mundo 1978 - Amaral (Foto: Agência Estado)A Seleção em 1978: Amaral é o quarto em pé, da esquerda para a direita (Foto: Agência Estado)