quarta-feira, 31 de julho de 2013

Clubes brasileiros voltam a disputar torneios amistosos de olho no mercado internacional


Reestruturação do futebol nacional tenta reverter abismo financeiro e técnico que causou diminuição de excursões de equipes ao exterior


Por Tiago Domingos (@TiagoDomingos)

O São Paulo entra em campo nesta quarta-feira para começar a disputar a Copa Audi, que também conta com Bayern de Munique, Manchester City e Milan. O Santos é outro que está no Velho Continente para disputar com o Barcelona o Troféu Joan Gamper. No início do ano, era o Atlético Paranaense quem vencia a Copa Marbella. Tudo isso soa como novidade, mas era bem comum tempos atrás.


Teresa Herrera, Torneio de Paris, Mundialito de Clubes, Pequena Taça do Mundo, Ramón de Carranza... Esses são alguns torneios amistosos que os torcedores daqui estavam acostumados a ouvir falar. Desde meados do século passado, com a ascensão brasileira a elite do futebol mundial, era rotina para clubes grandes, médios e até pequenos excursionarem para enfrentar times de todos os lugares do mundo, principalmente da Europa.


Esse intercâmbio serviu para tornar as equipes brasileiras conhecidas lá fora e também produziu algumas das histórias mais interessantes do nosso futebol, como a guerra nigeriana que foi parada com a presença do Santos ou a aventura amorosa de Garrincha que resultou em um filho sueco.


Participações em torneios ficam raras


Mas no início deste século, as viagens começaram a ficar menos frequentes, até que praticamente sumiram. Essa tendência seguiu o abismo financeiro que se abriu entre o futebol brasileiro e o europeu. Enfrentar uma grande potência, só para felizardos que chegavam ao Mundial de Clubes. Eduardo Esteves, do site MKT Esportivo, encontra algumas razões para essa mudança.


“Vejo o calendário como principal empecilho para que clubes brasileiros participem destas excursões. Como este período coincide com o nosso meio de temporada, além da viagem ficar inviável, os clubes temem que estes torneios prejudiquem o atual momento nos campeonatos em disputa. Não se pode excluir o desinteresse estrangeiro na participação dos brasileiros. Sem estrelas, não há atrativo”, afirmou ao Goal.



A reestruturação do futebol brasileiro está ligada a essa possível volta dos clubes tupiniquins aos torneios amistosos internacionais. No início do ano, o Atlético Paranaense decidiu deixar o time sub-23 disputar o estadual e viajou com a equipe principal ao sul da Espanha para disputar a Copa Marbella, que teve participações do Rapid Bucareste, Dínamo de Kiev, entre outros.


“Nós queríamos fazer uma pré-temporada boa, com jogos no exterior, com adversários difíceis. Nada de ficar restrito a treinos, jogos-treinos. Foram dois ganhos no mesmo período: enquanto nosso time adulto ganhou experiência internacional e evolui como um grupo, nosso sub-23 adquiriu mais ‘cancha. Foi tão boa a nossa decisão que sete atletas subiram do time mais novo”, explica Antônio Lopes, gerente do Furacão.


O dirigente foi um dos que sentiu na pele a mudança de realidade das excursões internacionais.


“Há 20 anos, era muito mais fácil para os clubes nacionais. Eu mesmo treinei equipes em competições de meio de ano. Mas o nosso calendário atrapalha muito, a CBF dificilmente faz concessões.”


Mas para especialistas em marketing esportivo, este não é único problema. Existe uma boa distância entre o trabalho de valorização da marca realizado aqui e lá fora.


“É muito grande pela mentalidade consumidora que estes torcedores (estrangeiros) criaram a partir do forte trabalho dos clubes internacionais nos últimos anos. Ser parte do clube está no DNA deste público. No mercado americano, esporte é entretenimento, e como tal, a partida passa a ser parte de um amplo espetáculo.


Na Premier League, nota-se o forte movimento de clubes como Manchester United, Chelsea e Manchester City, fechando parcerias estratégicas em países como Tailândia, China e Indonésia, visando o fortalecimento de suas imagens nos respectivos mercados e o aumento da base de fãs internacionais”, analisa Eduardo Esteves.


Soluções


E como São Paulo, Santos, Atlético-PR e outras equipes nacionais podem aproveitar esse momento de retomada e expandir suas fronteiras?


“O Furacão tem trabalhado forte neste sentido, para disputar de cada vez mais campeonatos. Ter boas participações para ser convidado outras vezes. Mais clubes vão seguir nossas ações agora”, prevê Antônio Lopes.


“Somente a viagem não (garante um ganho para a marca do clube). Ela deve vir acompanhada de um amplo projeto de marketing, contemplando além da competição em si, o pré e o pós jogo. O ideal é sempre chegar ao país já com conhecimento do tipo de público que encontrará, o tamanho e o potencial do mercado consumidor e os melhores locais a serem explorados. A cultura consumidora deve estar mais presente em quem vive o futebol no Brasil. O foco é o torcedor!”, crava Esteves.


Para o especialista, é necessário o aumento da participação de profissionais da área para agregar valor nestas viagens. Eles vão ajudar na tomada de decisões importantes para o crescimento do clube, movimento vital para que o futebol praticado no Brasil possa voltar a ser uma potência mundial.