Léo Baptistão disputa bola com Xabi Alonso
(Foto: Divulgação / Site Oficial do Rayo Vallecano)
Aos 20 anos, Leonardo Carrilho Baptistão ainda não faz parte da lista de brasileiros conhecidos que atuam no futebol espanhol, como Kaká, Marcelo, Adriano, Jonas e Diego Alves, mas aos poucos vai ganhando espaço. Santista de nascimento, Léo Baptistão tem sido um dos destaques do Rayo Vallecano , clube da primeira divisão da Espanha. No último domingo, apesar da derrota por 3 a 2 para o Espanyol, o meia-atacante foi o destaque dos Franjirrojos (como é conhecido o clube) marcando os dois gols do Rayo.
Com passagens pelo futsal do Santos - quando pode atuar ao lado de ninguém menos que Neymar, com quem ainda mantém contato apesar da distância - e pelo futebol de campo da Portuguesa Santista, Léo Baptistão marcou presença em sete dos oito primeiros jogos da equipe de Vallecas (bairro de Madri) na competição e é o artilheiro do Rayo com quatro gols - o primeiro deles logo na estreia, na vitória por 2 a 1 sobre o Betis, em Sevilla. Na ocasião, o site do diário "Marca" aproveitou o feito para relacionar o nome do santista ao de Lionel Messi (também chamado de Leo), com a manchete "No es Messi, es Leo" (Não é Messi, é Léo).
Em contato com o GLOBOESPORTE.COM, Léo Baptistão falou sobre a ida para a Espanha com apenas 15 anos, a trajetória após as duas lesões na clavícula na última temporada até a afirmação no time titular do Rayo (com quem tem contrato até junho de 2015), o encontro com o Real Madrid de Cristiano Ronaldo e a parceria com Neymar no futsal. E apesar de admitir as saudades do Brasil, o meia-atacante garantiu estar adaptado a Madri e que ainda não pensa em retornar ao País. Além disso, o santista não descarta um dia defender a seleção espanhola - embora o sonho ainda seja vestir a amarelinha.
Léo supera marcação de Pepe e Di Maria, do Real Madrid (Foto: Divulgação / Site Oficial do Rayo Vallecano)
Antes de ir para a Espanha, o futsal fez parte da sua vida. Você pelo Santos e chegou a disputar a Copa TV Tribuna de Futsal Escolar. Como foi essa experiência nas quadras anterior à vida na Europa?
Eu era muito novo ainda, nem sabia ao certo se ia virar (jogador), mas esse começo no futebol de salão me ajudou muito. Na Copa (TV Tribuna), praticamente dei minhas primeiras entrevistas. Foi quando deu ainda mais vontade de seguir em frente no futebol. O que se aprende no salão faz diferença no campo. Foi essencial.
Em 2008, veio a mudança para a Espanha. Como veio o convite para jogar lá?
Meu pai tinha um amigo (José Antônio Feijó) que trabalhava na ótica dele e que ia direto para a Espanha apresentar jogadores. Um dia, ele (pai) perguntou se eu poderia fazer um teste. Embarquei (para a Espanha) com o Feijó três dias depois, e foi assim que tudo começou. Moro sozinho, mas meus pais intercalam as visitas para matarmos a saudade. No Natal, eu vou (ao Brasil) ou eles vêm para cá. E nas férias de julho, eu fico em Santos ou em Lucélia, no interior de São Paulo.
Que tipo de impactos teve essa mudança de Santos para Madri?
Foi difícil para me adaptar no começo, mas acho até que por ter sido a Espanha, foi melhor. Creio que se estivesse na Inglaterra ou na Alemanha, custaria mais (para se adaptar). Os espanhóis daqui de Madri são mais parecidos com os brasileiros. São animados e extrovertidos, me receberam muito bem. Mas eu estranhei, porque era muito novo, não sabia direito o idioma... Quando cheguei aqui, pensei: e agora? Sorte que o Feijó estava comigo e ajudou. Mas realmente, senti muito a falta da família e dos amigos. Com 15 para 16 anos, não era fácil. Mas consegui me adaptar bem. Gosto muito de Madri e de Vallecas. Por enquanto, não quero sair daqui não (risos).
Como foi a trajetória da base até chegar à equipe principal do Rayo?
A experiência no juvenil foi muito boa. Todos me receberam muito bem. Mas tive que lidar com lesões. No ano passado, comecei a pré-temporada com o time principal, mas pouco antes de começar a Liga, quebrei a clavícula e fiquei quatro meses parado. Quando voltei, logo no primeiro jogo (pela equipe B do Rayo, contra o Getafe B), quebrei a clavícula de novo. No ano passado, joguei só oito vezes. Fiz quatro gols, mas ainda não estava bem. Não tinha muita confiança e estava um pouco acima do peso. Então, chegar ao time principal (do Rayo) esta temporada foi excepcional. Foi o time que me abriu as portas na Europa, que me deu tudo.
Léo cumprimenta Ronaldo antes de enfrentar Real
(Foto: Divulgação / Site Oficial do Rayo Vallecano)
Nesta temporada, você já teve a oportunidade de enfrentar o Real Madrid, com Cristiano Ronaldo e companhia. Apesar do resultado negativo (o Rayo foi derrotado por 2 a 0), como foi a experiência?
Acho que desde criança havia esse sonho de jogar contra eles. Foi excepcional. Não tenho nem palavras para descrever. Sobre o Ronaldo, dentro de campo dá para ver que é um cara diferenciado. Com um toque na bola que ele dá, já dá para ver que a qualidade é extrema. Quando se joga contra ele, é para se admirar. Tanto ele (Ronaldo) como Marcelo, Sergio Ramos, Pepe e todos os jogadores do Real Madrid.
O Rayo não é um dos grandes do futebol espanhol. Em Madri, acaba dividindo holofotes não só com o Real Madrid, mas também com o Atlético de Madrid e o Getafe. Mesmo assim, é um clube com uma torcida bastante animada. O que pode falar sobre isso?
Apesar de em menor quantidade que as demais, a torcida do Rayo é fanática, uma das melhores que já vi. Não joguei em outros times, mas já pude assistir jogos em outros estádios, como o (Santiago) Bernabeu, do Real, e o Vicente Calderón (do Atlético de Madrid). Está sempre presente, dá muita força para quem está em campo. Jogar contra o Rayo no Vallecas (estádio do clube) é muito difícil. A torcida faz do estádio um caldeirão.
O encontro com o Real Madrid já aconteceu. Em duas semanas, é a vez de enfrentar o Barcelona, do Messi. Qual a expectativa?
Claro que a gente fica ansioso, mas temos que focar nos jogos contra todos os times da Liga, pois temos nossos próprios objetivos. Mas é claro que todos querem jogar contra os melhores do mundo e mostrar seu valor.
Esperava a comparação feita pelo diário Marca logo após seu gol contra o Betis, envolvendo você e o Messi?
Fiquei realmente surpreso. Estava demorando para cair a ficha de que tinha estreado na primeira divisão da Espanha marcando gol. Quando saí do vestiário e olhei o celular com recados de parabéns, os comentários no Facebook e no Twitter, até assustou. Claro que fiquei feliz com a comparação, mas acho que foi precipitado, né? O Messi é um cara que a gente têm que colocar lá em cima. Estou muito longe dele e dos grandes da liga espanhola. Fiquei feliz, mas tive humildade para manter os pés no chão e continuar trabalhando para, mais adiante, quem sabe chegar onde ele (Messi) já chegou.
Site do jornal espanho Marca destaca Léo após vitória do Rayo Vallecano sobre Betis (Foto: Reprodução)
Desde o ano passado, o Neymar é cotado para trocar o Santos pelo futebol espanhol. O jogador já foi alvo de propostas de Barcelona e Real Madrid, mas está decidido a permanecer na Vila Belmiro. Você, inclusive, chegou a jogar com ele nos anos de futsal. Como era o relacionamento entre vocês, e como foi atuar ao lado dele?
Jogamos juntos na seleção santista de (futebol de) salão e no futsal do Santos. Tínhamos aquelas resenhas de garoto. Jogávamos bola, íamos em churrasco na casa dos pais... Há alguns meses mesmo houve um (churrasco) na casa dele e pudemos conversar, jogar conversa fora, relembrar o passado. Ele é muito gente boa, humilde, sempre recorda as origens dele. Acho que todos que o conhecem falam isso. Além, claro, de ser um jogador fenomenal. Desde pequeno, a gente já via que ele era diferente.
Com a experiência de quem respira o futebol espanhol, onde acredita que o Neymar iria se adaptar melhor? No Real Madrid ou no Barcelona? Ou no Rayo?
No Rayo! Manda ele vir para cá (risos)! Mas falando sério, acho que não tem assim um clube ideal. Com a facilidade que ele tem para jogar, se adaptaria fácil a qualquer clube e qualquer liga.
No ano passado, o Rayo Vallecano passou por uma crise financeira e esteve até ameaçado de fechar as portas antes do fim da temporada. Ainda assim, o time chegou até a sonhar com vaga na Liga dos Campeões. Como isso foi possível?
A parte econômica, as coisas de fora, acho que não influenciaram muito a gente. O clube pode não ter muito dinheiro ou uma estrutura grande, mas a vontade de cada jogador e da comissão técnica nunca esteve em falta. Todos nós queríamos estar lá, independente das circunstâncias. O grupo é muito unido, com um sempre ajudando o outro.
E para a atual temporada, qual o objetivo do Rayo?
Todos falam que é só permanecer na primeira divisão, mas é como já disse o nosso técnico (Paco Jémez): não podemos nos colocar um limite. Temos que pensar sempre em estar na parte de cima, entre os melhores, buscando o melhor possível.
Você pensa em seguir os passos de jogadores como o Thiago Alcântara (Barcelona) e o Rodrigo Moreno (Benfica) e se naturalizar para defender a Espanha Ou o objetivo ainda é chegar à seleção brasileira?
Hoje tenho a cidadania italiana por causa do meu bisavô, embora não tenha nada de italiano (risos). Também estou tirando o passaporte espanhol (o outro bisavô de Léo é espanhol). Se pintar uma oportunidade na seleção espanhola, por que não? É uma das melhores do mundo. Mas claro que tenho vontade de chegar à seleção brasileira. É o sonho de todos os jogadores brasileiros espalhados pelo mundo.
Léo comemora gol contra Bétis, o primeiro pelo Rayo (Foto: Divulgação / Site Oficial do Rayo Vallecano)
