sábado, 19 de outubro de 2013

No gol, ex-Menino da Vila se destaca na Itália e recorda Fábio Costa: 'Ídolo'


Quem é o melhor goleiro do Campeonato Italiano até o momento? É possível que Gianluigi Buffon (Juventus), Samir Handanovic (Inter de Milão), Pepe Reina (Napoli), Morgan De Sanctis (Roma) ou Christian Abbiati (Milan) sejam os nomes mais lembrados. Após sete rodadas, no entanto, é um brasileiro, desconhecido em seu próprio país - embora tenha um título nacional no currículo -, que tem se destacado. Trata-se de Rafael Andrade, do Verona.


Revelado pelo Santos e campeão brasileiro em 2002, ao lado de Robinho, Diego e companhia, Rafael encabeça o melhor "onze" do Italiano, eleito pelo jornal "Gazzetta dello Sport". No caso dos goleiros, a lista é feita a partir do número de defesas realizadas na competição. Em sete jogos, Rafael evitou gols em 46 oportunidades - 19 intervenções a mais que o segundo colocado da estatística, Andrea Consigli (Atalanta).


Rafael Verona Gazzetta (Foto: Reprodução/Internet)Rafael (de verde) estampa Gazzetta como melhor goleiro da Série A italiana (Foto: Reprodução/Internet)


Uma consequência do bom momento do brasileiro é a própria fase do Verona, que retornou à elite do futebol italiano na atual temporada, após dez anos de ausência, e ocupa o quinto lugar, com 13 pontos, à frente de times como Lazio (6º) e Milan (10º). São 13 gols marcados e 10 sofridos. Uma surpresa das melhores que já teve na carreira, garante Rafael.


- Cheguei na Itália há seis anos, com o clube na terceira divisão. Logo no primeiro ano atuando na Série A, poder ajudar o clube, com as defesas, a se manter em uma boa posição é algo muito gratificante. Fiquei muito feliz de ver meu nome em primeiro (na lista da "Gazzetta"). Feliz e surpreso. Não esperava, sinceramente - diz Rafael.


O curioso é que, meses antes de trocar o Brasil pela Itália, em 2007, Rafael Andrade esteve perto de abandonar a carreira, depois de experiências mal sucedidas no Flamengo-SP e nos clubes europeus onde fez testes, após o contrato com o Santos chegar ao fim, em 2003. Coube ao meia Elano, com quem atuou no Peixe e de quem é amigo até hoje, recolocá-lo no mercado da bola.


- Eu tinha feito faculdade (Administração), estava com 25 anos, há muito tempo sem treinar e pensando em parar. Então, o Elano me ligou. Disse que o Freddy Rincón (ex-volante de Santos, Palmeiras, Corinthians e Cruzeiro) ia treinar o São Bento (de Sorocaba) e perguntou se eu queria jogar, pois o time estava sem goleiro para o Paulista. Foi quando voltei a aparecer. Deu tudo certo e, na janela do meio do ano, o Verona me contratou - recorda.


Rafael, goleiro do Verona (Foto: Divulgação/Hellas Verona)Rafael sobe para fazer mais uma defesa: foram 46

em 7 rodadas (Foto: Divulgação/Hellas Verona)


Renascimento e reencontro


De 2007 para cá, Rafael presenciou a retomada do Verona. Campeão italiano em 1985, o clube ficou onze anos fora da Série A, chegando a cair para a terceira divisão - situação, aliás, na qual os auriazuis se encontravam quando o goleiro lá chegou. Aos poucos, a equipe se reergueu, assegurando a volta à elite com o vice-campeonato da "Segundona", na temporada passada. E, logo na reestreia, uma vitória por 2 a 1 sobre o Milan. Um "batismo" inesquecível para o ex-santista no mais alto escalão do futebol da Itália, marcado também por um reencontro.


- Foi um jogo bem diferente. Do outro lado, estavam Abbiati, o (Mario) Balotelli, o Robinho... Pessoal que a gente só via no videogame. O legal é que, quando me viu, o Robinho me deu um abraço forte e cumprimentou por eu ter chegado até aqui. Depois da partida, ele me deu a camisa de presente, como lembrança de tudo o que passamos no Santos - lembra.


Campeão na Vila


O período na Vila Belmiro, aliás, também está gravado em um canto especial na memória de Rafael. O goleiro chegou no clube aos 17 anos, depois de jogar a Copa São Paulo de Futebol Júnior pelo Juventus, e fez parte do time campeão brasileiro em 2002. Foram apenas quatro jogos na campanha, todos na primeira fase e sempre quando o então titular Júlio Sérgio não estava à disposição. O ex-santista, no entanto, fala com orgulho da conquista.


- Foi sensacional. Era um grande time. Robinho, Diego, Renato, Alex... A equipe era jovem, o clube vinha de um longo tempo sem títulos, e eu só tinha 21 anos. Terminei a base no Santos, tinha quatro anos de clube... Todos nós fomos campeões. Fora que a convivência era fantástica. Foi um grupo que cresceu de partida em partida - conta.



Ídolo e professor


E o grande parceiro de Rafael naquele time era, curiosamente, um dos concorrentes diretos pela condição de titular: Fábio Costa. Se hoje o experiente goleiro está encostado no Santos, com quem tem contrato até o final de dezembro, há onze anos o camisa 1 brilhou no mata-mata do Brasileirão, destacando-se principalmente na final, contra o Corinthians. O arqueiro do Verona não poupa elogios ao antigo companheiro, a quem considera um ídolo.


- O Fábio sempre me incentivou muito. Quando cheguei ao Santos, ainda na base, fiz alguns treinos com o time profissional, e ele sempre me dava luvas, chuteiras. Tecnicamente, aprendi muito com ele. Só tenho a agradecer. De vez em quando a gente se fala pelo celular, e ele diz que fica feliz de ter podido me ajudar. Foi um ídolo para mim. Quando você sobe da base e um cara que já jogou na Seleção te mostra um caminho, é porque sabe o que está falando. Hoje, sou titular de uma equipe da Série A da Itália. Acho que ele mostrou o caminho certo.


De volta à Itália...


O Verona retorna a campo neste domingo, diante do Parma, em casa. O objetivo? Por enquanto, somar o maior número de pontos para assegurar a permanência na primeira divisão.


Rafael, goleiro do Verona (Foto: Divulgação/Hellas Verona)Rafael exibe prestígio no Verona com a braçadeira de capitão no bracço (Foto: Divulgação/Hellas Verona)


- Nós imaginamos que, para se garantir na Série A, precisamos de, pelo menos, 40 pontos. Temos 13. Então já demos um bom passo, mas o campeonato é longo. O Verona é um clube de tradição, já foi campeão italiano e tem uma torcida apaixonada, que sempre enche o estádio. Merece ficar na primeira - conclui.