terça-feira, 3 de setembro de 2013

Um mês após retornar da Espanha, Peixe vê clima político efervescente


Desde 2009, quando Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro e Marcelo Teixeira disputaram a presidência do Santos, o clube não vive um clima político tão efervescente - nem mesmo em 2011, quando Laor (como é conhecido o mandatário) concorreu à reeleição. A derrota por 8 a 0 para o Barcelona, há um mês, funcionou como estopim para oposicionistas e dissidentes. Isso porque as eleições para o triênio 2015-17 só vão ocorrer no final do ano que vem.


Quatro grupos dividem a disputa política no Santos, sendo dois formados por dissidentes da atual diretoria, um que se denomina a "única" oposição à gestão de Laor e outro que exalta o trabalho do atual presidente, licenciado por um ano em razão de problemas de saúde. O GLOBOESPORTE.COM conversou com os representantes das quatro frentes sobre o momento do clube, a avaliação que fazem da administração de Luis Alvaro e o que pensam do modelo de governança por meio do Comitê de Gestão.


Luis Alvaro Laor presidente do Santos arquivo (Foto: Ricardo Saibun / Divulgação Santos FC)Laor pediu afastamento de um ano por motivos de saúde (Foto: Ricardo Saibun / Divulgação Santos FC)


Associação Santos Sempre Santos garante ser “única oposição”


Criada em 2010, a Associação Santos Sempre Santos afirma ser a "única e verdadeira" oposição à gestão de Luis Alvaro. O grupo lançou candidato à presidência do Peixe na última eleição, mas a chapa encabeçada por Reinaldo Guerreiro acabou superada pela de Laor - que teve o apoio de sócios e conselheiros que atualmente são dissidentes da diretoria.



O Santos tem torcedores no Brasil todo, mas perdeu as raízes na própria cidade"


Emerson Cholbi



- Precisamos reconstruir o Santos. Se o Luis Alvaro realmente amasse o Santos, ele não tinha pedido afastamento, mas demissão. O nome do Santos foi jogado às traças. Foram mais de R$ 300 milhões com venda de jogadores que apareceram na gestão anterior. Não houve mérito nenhum. O restante (dos grupos políticos) foi montado, infelizmente, pela divisão do poder – garante o vice-presidente da Santos Sempre Santos, Emerson Cholbi, assegurando que o ex-presidente Marcelo Teixeira, um dos principais oposicionistas a Laor, não integra a associação.


As principais críticas do grupo estão no número de funcionários e no que qualificam como "abandono" do patrimônio do clube. A associação condena, também, o “afastamento” do clube de suas raízes. Para Cholbi, a diretoria de Laor deu as costas para a cidade de Santos.


- O clube, hoje, tem mais de 400 funcionários. É inadmissível. O Santos arrecadou uma fortuna e o patrimônio está abandonado. O Santos tem torcedores no Brasil todo, mas perdeu as raízes na própria cidade. Queremos resgatar essa tradição, aproximar o clube de Santos outra vez. O Luis Alvaro esnobou a cidade – critica, descrevendo os integrantes da associação como sendo de “famílias tradicionais que se juntaram para reconstruir o Santos”.


“Eu sou Santos” exalta Laor e cita redução nas dívidas


Idealizada no segundo semestre de 2011 após cisão na Associação Resgate Santista, a “Eu Sou Santos” se tornou um grupo político há cerca de seis meses, formado por associados e conselheiros que apoiaram Laor nas duas últimas eleições do clube. Apesar de discordarem do que consideravam um "aparelhamento político" da atual gestão, os integrantes se colocam ao lado da gestão de Luis Alvaro e Odílio Rodrigues, mandatário em exercício.



Essa é uma das gestões mais vitoriosas da história do Santos"


Nabil Khaznadar



- O clube foi assumido (em 2009) com muitas dívidas e é um dos que mais reduziu essas dívidas nos últimos anos. Houve problemas e divergências, principalmente agora, mas essa é uma das gestões mais vitoriosas da história do Santos. Antes da licença, dissemos ao presidente (Laor) que considerávamos o pedido de impeachment um golpe de aproveitadores. Também nos colocamos contra a renúncia. Estávamos preocupados, e ele entendeu que, para o bem da saúde dele e do Santos, o ideal era que ele se licenciasse - explica Nabil Khaznadar, coordenador da associação em São Paulo.


Dois ex-integrantes da "Eu Sou Santos", Francisco Cembranelli e Thiers Fleming, foram indicados por Odílio para integrar o novo Comitê de Gestão - os nomes já foram aprovados pelo Conselho Deliberativo e, por isso, desligados do grupo. Khaznadar, no entanto, assegura que o objetivo da associação nunca foi o de exigir a participação de membros no CG, mas auxiliar a retomada da governabilidade.


- Acreditamos que os membros do Comitê devem ter áreas de atuação, seja (categorias de) base, marketing... E que o erro (na formação do antigo Comitê) é que os integrantes foram nomeados por apoio. O Comitê deve ser escolha exclusiva do presidente. Foi aí que houve racha, pois um grupo achou que deveria ter gente dele lá. Não queremos cargos, mas o bem do Santos - garante.


Dissidente, Terceira Via planeja candidatura própria em 2014


Formada por associados que chegaram a integrar a diretoria do ex-presidente Marcelo Teixeira e que, posteriormente, fizeram parte do primeiro biênio da diretoria de Luis Alvaro, a Terceira Via Santista quer lançar candidato próprio nas eleições do ano que vem. Apesar de ter manifestado apoio à diretoria após a goleada sofrida para o Barcelona, o grupo qualificou como "golpe político" o pedido de licença do mandatário.



Não temos um jogador de Seleção em virtude dessa aberração, o Comitê de Gestão"


Orlando Rollo



- Eu, particularmente, só tenho a lamentar. A gente vai ao Conselho (Deliberativo) para debater ideias, o eventual pedido de impeachment... Tudo deveria ter sido deliberado e discutido politicamente - critica Orlando Rollo, presidente da Terceira Via e vice-presidente do Conselho Deliberativo do Peixe nos dois primeiros anos da atual gestão.


As principais críticas da Terceira Via estão no modelo de administração por meio do Comitê de Gestão. Para Rollo, o órgão tem "engessado" o Santos por atrasar a contratação de reforços e a discussão de assuntos de relevância, e fornece uma "falsa sensação de democracia".


- Somos veementemente contra a manutenção desse modelo de governança e favoráveis ao presidencialismo, que é a tradição do Santos. Futebol exige dinamismo. O Santos perdeu muitas negociações por ter de esperar uma semana até o Comitê se reunir para discutir se vai ou não contratar aquele atleta... Se o empresário liga e você não responde na hora, ele vai atrás de outros presidentes. Não tem cabimento esperar as reuniões de toda quarta-feira para tomar as decisões. Não temos um jogador de Seleção em virtude dessa aberração chamada Comitê de Gestão - dispara.


Resgate admite 'decepção' após racha, mas evita falar em eleição


Associação criada em 2001 e que encabeçou as eleições de Luis Alvaro em 2009 e 2011, a Resgate Santista rompeu oficialmente com a atual gestão em julho deste ano. Em nota, na ocasião, o grupo afirmou que, "às escondidas, um plano de tomada de poder foi cautelosamente armado em diversas frentes" por pessoas que teriam aberto mão dos princípios da "transparência, democratização e profissionalização" - o que motivou o racha com a diretoria.



As coisas parecem ser feitas às pressas, sem um planejamento"


Fábio Vianna



- Eu diria que fica um gosto de decepção, sim. De repente, há um grupo saindo da Resgate, uma dissidência, sem maiores explicações, e comandando o clube. É difícil. Você tem críticas de conselheiros sem acesso a informação. Falar em profissionalização é complicado. Tem cargo vago, não há mais superintendentes... O Zinho é contratado (para a gerência de futebol), mas não diz quais as metas a serem cumpridas. As coisas parecem ser feitas às pressas, sem um planejamento - lamenta o presidente da Resgate, Fábio Vianna.


Segundo Vianna, a principal crítica do grupo está na gestão do clube - ainda que a mesma não seja dirigida ao modelo de Comitê de Gestão, mas ao que é discutido nas reuniões do órgão. Mesmo assim, ele garante que o grupo ainda não pensa nas eleições do ano que vem, e foca a preocupação com a irregularidade do time dentro de campo.


- Alguns são contra a figura do Comitê (de Gestão), mas penso que o problema não está na estrutura. Acho que o Comitê fica muito no dia a dia, discutindo questões operacionais, Sócio Rei, se vai pintar ou não o muro... Queremos apenas que o Comitê pratique atos de acordo com nossos princípios. A preocupação é tanta que, antes de eleições, queremos ter certeza de que o clube continua na primeira divisão em 2014 - conclui.